Nesta segunda-feira, a coluna de Guilherme
Wisnik na
Folha (inicialmente
batizada de Forma & Espaço), completa 30 publicações.
Localizada em local nobre (no pé da página 2 da
Ilustrada,
embaixo da coluna de
Mônica Bérgamo), a coluna é uma iniciativa louvável de Marcos Augusto Gonçalves, editor do caderno cultural da
Folha de S. Paulo, que assumiu o posto no início do ano.
Não é a primeira vez que a
Folha dá espaço para ele - na outra ocasião, há mais de dois anos atrás, não havia uma formatação e ele assinou meia dúzia de pequenos textos que tiveram vida curta - e que quase mataram o
Ruy Ohtake (qualquer dia explico melhor...) .
Os pecados da primeira incursão foram, em parte, corrigidos na segunda. Se a linguagem hermética já não é (tão) presente, os temas ainda patinam. Existe uma diferença entre informar o leitor de um grande jornal acerca do universo da
arquitetura e a opinião de um colunista. Pelo que percebo,
Wisnik acerta quando faz um pouco de cada, ou seja, pega um tema em voga e aborda de forma original (fez isso no caso da especulação imobiliária em
SP, no caso do
Minhocão e do Aterro do Flamengo). Agora, quando dá uma de colunista, inventando uma pauta (como o
Zico!!!!, por exemplo), apesar da coerência de seu pensamento
uspiano, suas colunas não são interessantes.
Ora, o que tem o
Zico a ver com a
arquitetura? Não existem temas mais urgentes? Se a
Folha de S. Paulo fosse um jornal com uma larga cobertura
arquitetônica e a coluna de
Wisnik fosse um complemento, tudo bem. O problema é que a cobertura
arquitetônica do jornal é
pífia, o que (praticamente) resume o espaço em questão ao único território para as discussões do tema. E aí é que está o problema.
Apesar da aparente
multidiciplinaridade do autor - filho de intelectual, ele é letrista, tem mestrado em história social, escreve texto de
arquitetura e ainda
projeta - ele não consegue (acho que não quer!) se
desprender do universo
uspiano e de seu
cotidiano - leia-se a
Cosac Naify, seus colegas de faculdade e, sobretudo, Paulo Mendes da Rocha (a
benção painho...). Existem outras manifestações
arquitetônicas possíveis em desacordo com a lógica
uspiana.
E ao não se
desprender deste universo, ele peca - ai segundo o
Manual da Folha - em não avisar ao leitor de seu envolvimento com os temas em questão. Na semana passada, por exemplo,
Wisnik falava sobre a exposição dos
arquitetos de sua geração no Centro Maria
Antônia (veja o
post Qual é a sua turma?). O artigo é um
copy-
past de outro texto escrito por ele,
anteriormente, para o evento. É chato, não? E não foi a primeira, nem a segunda (e creio que nem a última), que ele fez isso.
Bom, mas ao fazer uma retrospectiva de a coluna do
Wisnik,
descontando o texto de abertura, cheguei ao seguinte histórico.
Em mais da metade, ou que equivale a mais ou menos 2/3, os temas são pertinentes: 8 são sobre lançamentos de livros (3 da
Cosac Naify, que o autor possui ligação...); 5 sobre problemas urbanos do Rio e
SP (3
Minhocão e 2 Aterro do Flamengo), 4 sobre
atualidades (
Pritzker, morte de Jane
Jacobs, copa do mundo, exposição) e 2 sobre o mercado imobiliário paulistano.
Os outros 1/3 possuem temas incertos: 3 sobre outras artes (música - Chico Buarque -; artes plásticas -Nuno Ramos-; e teatro -
BR3), 6 sobre assuntos diversos (
Tietê,
Zico!!!,
Ur??, Marx, Google, bienal de artes, China).
Mas no final das contas, ao menos ao que se refere aos temas escolhidos, a coluna é positiva.
Para terminar (ufa!), vamos, finalmente, ao
artigo de hoje (só para assinantes do
UOL ou da Folha). É sobre um livro de
Peter Zumthor (
Pensar a arquitetura), lançado em português pela espanhola Gustavo
Gili.
Wisnik tece amplos elogios ao texto do autor-
arquiteto. Para mim, os escritos de
Zumthor mais parecem Paulo Coelho:
bobinho,
bobinho...É mais recomendável ficar com a obra.
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