"um blog qualquer..."
Vocês sabem que a falta de assunto em janeiro é uma coisa séria... Pois é: vamos fazer um esforço, vai? Eu li em uma entrevista qualquer um entrevistado qualquer falar de um comentário qualquer deste blog, que discutia a velha e fantasmagórica crítica (foi naquele post sobre a entrevista do Montaner na aU, lembram?). Primeiro, vamos ler o comentário no blog que deu origem a confusão:
"Alenca
De todos os textos que o Comas já fez só consegui ler "meio". Aquele sobre Pampulha, em que ele discorre sobre a inspiração de Niemeyer na "Cabana Primitiva" para conceber a "Casa de Baile". Lamentável. A interpretação permite tudo... No fundo, a crítica gaúcha, não deixa de ser um "olhar estrangeiro". Afinal, nada daquilo que eles comentam (Costa, Niemeyer, Reidy, Artigas, Lina e Paulo) não foi construído lá. Realmente, o sentimento de frustração deve ser enorme. A crítica é só uma válvula de escape. Mas também uma maneira de demarcar território.
cricri"
Mas a provocação barata realizada em janeiro de 2008 não ficou sem resposta. No melhor estilo John Wayne, Comas - o gatilho mais rápido do velho oeste - respondeu de bate-pronto, de primeira, um ano depois... na entrevista da aU de janeiro de 2009! Vejam só:
"Para contar algo de pessoal, li em um blog qualquer um comentário escandalizado com a minha comparação da Casa do Baile da Pampulha a uma cabana primitiva, considerada no mínimo absurda. Evidentemente, o comentário indica que o leitor não está familiarizado com a importância da ideia de cabana primitiva na arquitetura a partir do Iluminismo, com a persistência explícita dessa ideia nas formulações de Le Corbusier, com os vínculos entre essa ideia e a valorização da arquitetura vernácula por Lucio Costa, ou, mais concretamente, com o entusiasmo do Iphan, nos anos 40, com a Viagem Philosophica, de Alexandre Rodrigues Ferreira e as belas aquarelas de José Joaquim Freire, entre as quais uma representando a maloca dos índios curutus, e com o livre trânsito de Oscar Niemeyer no Iphan, ele que era o colaborador preferido de Lucio (Costa) e acabava de fazer o Hotel de Ouro Preto".
E agora, bando de ignorantes, entenderam a iluminada relação? Seria como, no melhor estilo Comas, a partir deste post, fazer uma relação do John Wayne com os índios curutus! Entenderam? Vocês precisam estudar mais e serem mais criativos!
Bom, o fato é que a falta de ambiente para a discussão arquitetônica no Brasil é espantosa. Como é que um cara como o Comas fica com isso entalado na garganta? Como é que ele leva um comentário de um blog como esse a sério? Tenho uma suspeita: a solidão intelectual. Creio que ninguém comenta nada do que ele escreve. N-I-N-G-U-É-M. E olha que ele não escreve pouco. Não sei se em tom de piada, se chamando ele de velho ou de prolixo, mas a mocinha que escreveu a abertura disse que se reunisse tudo que ele escreveu " já dariam uma enciclopédia".
E logo ele que além de escrever é um arquiteto de mão cheia. O que? Não lembram de nada que ele fez? Não lembra da galeria de arte ou da reforma no sobrado? E a reforma no mercado? Ora, é só pegar o catálogo da exposição Ainda Moderno? - montada em Paris. Os organizadores da mostra André Correa do Lago e Lauro Cavalcanti, para facilitar a pesquisa, recorreram a "consultores setorias" que fizessem uma lista de projetos locais para compor um panorama da produção recente. E da região sul, o consultor era Comas, que escolheu, entre outras coisas, uma obra-prima de... Comas, ora!
Marcadores: André Correa do Lago, AU, Blog do Alencastro, Comas, Lauro Cavalcanti
29 Comments:
alen, só vc não entendeu o q ele quis dizer...q ele é tããããão importante q qq blog fala dele.
autopromoção. vc já fez isso?!
Acho que agora não, Mave: promoção a si próprio ele fez no Ainda moderno?... descaradamente!
Alenca, parece que as coisas estão mudando: acho que é a primeira vez que um comentário de um blog vira assunto de uma revista.
Mais isso é bom ou ruim, anônimo?
alencastro...
sera q ruth v zien e hugo sewaga seriam leitores desse blog ???
hei ?
Claro que são. E mais: já fizeram comentários...
Parabéns por este blog qualquer!...
Eu dou um desconto à crítica em geral, acho q sua qualidade simplesmente reflete a qualidade de nossa arquitetura atualmente...
Tipo qualidade duvidosa, não?
Sim, quando me referi à qualidade era mais com relação à falta de qualidade... E a falta de qualidade da arquitetura é a âncora da respectiva crítica, assim como a falta de qualidade dos nossos clientes (com raras exceções) afunda a arquitetura...
Será, anonimo?
A crítica, na maioria das vezes, é condescendente e muito boazinha com os projetos ruins.
mas, concordo: parabéns pelo blog, Alencs!
Aliás, notei que sumiu o link pro Parede de Meia...
concorrencia?
Um blog apocrifo eh um blog qualquer. Apesar de ser bom.
O blog eh bom porque eh apocrifo ou eh bom porque eh um blog qualquer?
Como é, a crítica da crítica pode, mas a crítica da crítica da crítica não? NInguém é obrigado a ler o que escrevo e , se ler, tampouco é obrigado a gostar do que escrevo. Nada contra uma boa controvérsia. Mas seria mais produtivo, para quem gosta de arquitetura, discutir a qualidade dos meus argumentos ( e a qualidade do projeto em que participei) em vez de me censurar pela suposta reação tardia ou auto-promoção. Em todo o caso, fico sensibilizado tanto com tua leitura atenta dos meus textos quanto com teu conhecimento sobre a minha escassa obra construída, e aviso que pedi à AU para identificar o blog na minha entrevista. Promoção com promoção se paga...
Fazemos o que podemos, não é anônimo?
Nada, Annima, nunca tive link do Parede - e por não ser um blog desinteressante ou por medo da concorrência. Aliás, o universo da blogosfera não há concorrência (ninguém concorre por verbas publicitárias), só camaradagem. Concorrência por prestígio e fama? Também não é o caso de brigar por uma dúzia de leitores, não é?
O que ocorre é que estes links ai ao lado nunca foram atualizados. E quando eu os criei, não conhecia o Parede. Mas qualquer dia destes eu arrumo a casa.
Nada, anônimo: é bom pois é um apócrifo qualquer...
Por falar em crítica, na internet (blogues e listas de discussão) e na imprensa local, Niemeyer e a Praça da Soberania são temas recorrentes e que repercutiram.
Ao falar da famigerada praça, Sylvia Ficher escreveu um artigo sóbrio, que li na MDC. Além dela, Élio Gaspari também faz uma crítica ao projeto.
Niemeyer, em resposta às críticas, desqualifica as opiniões de pessoas "alheias aos assuntos da arquitetura e do urbanismo", ou seja, fora do ramo. E em uma lista de discussão, alguém põe em cheque a crítica da Sylvia argumentando que, pelo fato de ela não projetar nada, mesmo sendo arquiteta urbanista, não tem condições de falar nada a respeito (Ora, antes de projetar a pessoa não aprende e estuda teoria?). Os links dos artigos estão na Crise [!].
Além do mais, fosse assim, o "Blog do Alencastro", apócrifo que é, segundo o "Anônimo", não seria nem lido e tão pouco repercutido.
Enfim, fico temeroso com as opiniões contra a crítica. Principalmente as opiniões que afirmam que somente pode criticar a arquitetura e urbanismo o quem é arquiteto urbanista que projeta.
Citando algumas pessoas, como por exemplo Oscar Wilde e Pierre de Beaumarchais, "a crítica é o prazer de compreender. Sem a liberdade de criticar não existe elogio lisonjeiro". Mesmo porque, "o crítico é aquele que é capaz de traduzir de uma outra maneira ou com novos materiais a sua emoção perante as coisas".
Agora, quem não gosta da crítica, um conselho de Elbert Hubbard: "Fuja da crítica. Não faça nada, não diga nada, não seja nada."
E concordo com Comas, devemos discutir os argumentos, sejam lá de quem for. Sejam argumentos escritos ou "argumentos" projetados. Ficarei atento a isso.
Deu problema no Blogger. Acho que o comentário abaixo foi enviado com assinatura errada. Portanto, reenvio.
Por falar em crítica, na internet (blogues e listas de discussão) e na imprensa local, Niemeyer e a Praça da Soberania são temas recorrentes e que repercutiram.
Ao falar da famigerada praça, Sylvia Ficher escreveu um artigo sóbrio, que li na MDC. Além dela, Élio Gaspari também faz uma crítica ao projeto.
Niemeyer, em resposta às críticas, desqualifica as opiniões de pessoas "alheias aos assuntos da arquitetura e do urbanismo", ou seja, fora do ramo. E em uma lista de discussão, alguém põe em cheque a crítica da Sylvia argumentando que, pelo fato de ela não projetar nada, mesmo sendo arquiteta urbanista, não tem condições de falar nada a respeito (Ora, antes de projetar a pessoa não aprende e estuda teoria?). Os links dos artigos estão na Crise [!].
Além do mais, fosse assim, o "Blog do Alencastro", apócrifo que é, segundo o "Anônimo", não seria nem lido e tão pouco repercutido.
Enfim, fico temeroso com as opiniões contra a crítica. Principalmente as opiniões que afirmam que somente pode criticar a arquitetura e urbanismo o quem é arquiteto urbanista que projeta.
Citando algumas pessoas, como por exemplo Oscar Wilde e Pierre de Beaumarchais, "a crítica é o prazer de compreender. Sem a liberdade de criticar não existe elogio lisonjeiro". Mesmo porque, "o crítico é aquele que é capaz de traduzir de uma outra maneira ou com novos materiais a sua emoção perante as coisas".
Agora, quem não gosta da crítica, um conselho de Elbert Hubbard: "Fuja da crítica. Não faça nada, não diga nada, não seja nada."
E concordo com Comas, devemos discutir os argumentos, sejam lá de quem for. Sejam argumentos escritos ou "argumentos" projetados. Ficarei atento a isso.
Eu não disse que ele era o gatilho mais rápido do velho oeste? Exatas 18 horas e 48 minutos após a publicação do post, temos uma resposta - quer dizer, a não ser que vocês realmente acreditem que foi o Comas que escreveu tal comentário e não eu mesmo que assinei por ele... mas seria uma hipótese remota: Alencastro acordado 6:14 da manhã? As más línguas dizem inclusive que ele fez o comentário neste horário pois não conseguiu dormir pensando no que iria responder...
Mas, chega de bobagem e vamos aos fatos. É claro que crítica da crítica da crítica pode! ô se pode! Aqui pode tudo (que eu quiser, claro). E olha só: eu estou fazendo a crítica da crítica da crítica da crítica da crítica. Também pode.
Mas no post eu não critiquei a reação tardia: só foi uma tiração de sarro. É ilário pois eu não esperava uma reação a tal comentário! Agora, quanto a discutir o conteúdo de seus projetos ou artigos - quem sou eu? -, eu passo a vez: não tenho repertório para tal. Assim, fico nesta lenga-lenga rasteira deste blog, que é o que me cabe. Mas não deixo de achar estranho a inclusão do mercado na exposição, mesmo por que - pelo que sei - você mesmo não teria ficado satisfeito com mudanças na obra.
Se me permite, eu teria uma sugestão a dar a você e sua turma: aproveitem a rede para que o debate seja mais franco e evolua com mais fluidez. Sério: montar um blog é fácil e de graça. Basta ter conteúdo para funcionar. Tá certo, a velocidade da internet não dá tempo para tecer elaborações complexas, tais como as suas; mas pelo menos tira o debate dos empoeirados congressos. Mesmo seus textos antigos e recentes poderiam estar facilmente disponíveis no 'Blog do Comas', para consultas e - possíveis - debates. Já pensou? Se isso não ocorrer, temo que o Docomomo terá como pauta - em poucos anos - a conservação de outro tipo bem moderno: o crítico de arquitetura.
Por fim, aparceça sempre e agradeço o pedido que fizeste a aU. Vamos ver se a chefia abre a guarda...
Marcão, o argumento de que só pode criticar aquele que projeta é furado - coisa de província: crítico de arquitetura deveria ser uma profissão como outra qualquer. Crítico de cinema, por acaso, tem que ser cineasta? E crítico literário tem que escritor? O negócio é o seguinte: crítico é crítico, arquiteto é arquiteto.
Essa é uma velha desculpa para desqualificar quem critica. Sobre o assunto do chifão, hoje mesmo, no Estadão, Niemeyer usa esta tática: "Agora, o presidente do instituto, que eu nem sei o que fez até hoje, se permite me criticar. Mas eu não vou manter essa discussão com pessoas pela quais não tenho o menor apreço". Ora, o cara não precisa fazer nada, ele simplesmente é presidente do Iphan. Ou se respeita a instituição ou estamos perdidos, não?
Alencastro, concordo integralmente com você.
Niemeyer e seus acólitos têm usado com frequência essa tática contra os críticos. É uma tática abjecta, por sinal.
Niemeyer adorou com moderação ser ovacionado - com justiça - ao completar 100 anos. Afinal, quem não gostaria? Mas "é preciso que um autor receba com igual modéstia os elogios e as críticas que se fazem às suas obras." Hubbard nele.
Agora, cá entre nós, uma pessoa que aplaudi entusiasticamente Stalin não vai respeitar nem o condominio onde mora. Somos um país, até certo ponto, democrata, pois a maioria de nós ainda respeita as instituições e/ou elas se fazem respeitar.
Por fim, Alencastro, apócrifo ou não, continua firme aí que eu, neófito que sou, vou daqui.
Então, Anninha: a condescendência da crítica de arquitetura não depõe contra a qualidade de ambas?
Se bem em muitos casos, acredito que a condescendência não seja com os projetos ruins, e sim com os colegas arquitetos, já que os críticos bem conhecem as poucas e boas que passamos para chegar a algo que, com sorte, fica "razoável"...
Com a palavra, os críticos de plantão...
Como um bom stalinista, Nieneyer nunca conviveu bem com críticas.
Niemeyer - tô até errando o nome...
É Annima e não Aninha, Anônimo. Puxa, todos aqui temos um nome a zelar!
Não há ambiente para crítica por aqui: nem massa produzida suficiente, muito menos tradição entre os profissionais em aceitá-la, ou então espaço na mídia para tal.
Em parte, agora com a internet, as coisas estariam mais fáceis, pois a mídia está ao alcance de todos. Mesmo assim, lhe pergunto: quantos sites ou blogs de crítica de arquitetura você conhece?
Olha, só conheço o seu blog... isso se vc assim o enquadra... mas também não sou de ficar procurando, nem sei como vim parar aqui rsrs
A propósito, navegando no google vira e mexe acabo caindo numa rede de foruns, chama-se skycraper alguma coisa... é engraçado observar como lá as pessoas "normais" ADORAM muitos, pra não dizer todos os empreendimentos malditos entre nós...
Complementando desculpe a digitação, ato falho...
Lá vou eu de novo, dessa vez para agradecer a sugestão quanto ao blog. Já pensei nisso, mas não arranjei tempo. Em todo o caso, a revista ARQTEXTO do PROPAR está digitalizada e os números são acessíveis on-line: www.ufrgs.br/propar e clicar em publicações. Pra quem gosta de cabana primitiva, tem uma mão cheia no meu artigo da número 8, que é uma análise comparativa das casas de vidro da Lina, do Johnson e do Mies. Pra lá de erudito....
Falta de assunto em Janeiro? Mas que tipo de visão de arquitetura você tem? Que tal discussões um pouquinho mais sólidas sobre as cidades brasileiras, aproveitando os bons e numerosos leitores? Senão vamos continuar gostando do espetáculo supérfluo de Portzamparc no Rio "e seu jeito low-profile de ser."... tudo muito chique!
Bah, não sei como perdi o momento deste post...
Opinião de quem vive aqui nos pagos sulistas e foi aluno de mestrado dele, o Comas sabe muito... mas às vezes seu jeito de ser faz ele parecer mais boçal do que ele realmente é...
Quanto à autopromoção e outras coisas... no Ainda Moderno? O Sérgio Marques ainda TENTA ser isento... foda é aguentar o Guia de Arquitetura Contemporânea de Porto Alegre, organizado pelo F. Kiefer, no qual até escolinha pública projetada por ele no seu melhor estilo oitentista ele colocou... esse livro sim é um atentado...
E pra finalizar, a foto do marido da Aninha com meias vermelhas é algo!!
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