2006, primeira temporada

Bom, chegamos ao final do ano. Este é o último post de 2006, realizado depois de passar quatro horas esperando um mísero vôo...

Então, já estou com o pé na areia: ao contrário da canalha, o escriba deste blog vai descansar duas semanas num lugar paradisíaco (nada a ver com as praias impróprias aqui por perto). A esbórnia já começou: estou, como farei nos próximos dias, bebendo Veuve Clicquot (a de hoje é uma excepcional Rara Vintage, safra 1988), comendo Beluga (Malossol) e fumando Cohiba (Robusto). Prometo voltar renovado.

Mas vamos ao que interessa, ou seja, o balanço do ano, com números. Isso para provar, ao contrário do que muitos pensam, que um blog também pode ter critérios científicos.

Desde o início, dia 9 de agosto, escrevi 134 posts. Tirante os meus, computei 238 comentários: 8 em agosto, 17 em setembro, 37 em outubro, 138 em novembro e 38 em dezembro.

Algumas observações. Os posts mais comentados são aqueles da vizinhança: parece que não há muito interesse no que acontece além das fronteiras de Guarulhos e Osasco. Mas mesmo assim, vou persistir.

Agora, em detalhes, os posts recordistas de comentários, mês à mês. No primeiro mês, agosto, três posts tiveram quatro comentários: o Polêmica do mês, o Revista em coleção e o De volta para casa. Em setembro, o recordista foi o post Um grande negócio, com 5 comentários. No mês seguinte, quem mais repercussão causou foi Mais um!, com 14 comentários. Novembro, o mês mais quente até agora, teve um post com 36 comentários: o Eu conheço esse cara!. Ainda neste mês, outros dois posts foram campeões da preferência popular: o já épico Como ser um grande arquiteto? e o ainda enigmático Espírito.

Por fim, dezembro foi um mês meio morto, com todos preocupados com as compras de natal, com as entregas de projeto e trabalhos escolares, em fechar as notas dos alunos, enfim, coisas de fim de ano. Tem ainda as já famosas confraternização da 'firma' (prometo que não irei falar nada de quem levou esguichada para curar ressaca em plena festa...). Então, em dezembro, o campeão é o post Prêmios, prêmios... , com 13 comentários. Em segundo lugar ficou o post "...e vai longe", com 9 comentários. Em terceiro ficaram empatados (só com 8 !), o Mulheres, mulheres... e o "...um monstro com a boca aberta...".

Com 72 comentários, o título de 'tagarela do ano' vai para o Anônimo (assim com já disseram que o Alencastro são vários, também desconfio que o Anônimo é um só!).

Mas a comenda deve ir para as mãos de quem realmente merece: o nobre Peri, que, mostrando a cara, fez 47 intervenções. Valeu rapaz! Ele foi seguido por Nei Quanthier, com 22; Gugala, com 19 comentários (que também leva o título de 'precursor dos posts'); Franka, com 16; Maverick, com 13; Homem_intranse, com 8; e Grazzini, com 6; Márcia, Christian Rocha e Carlos Noel, todos com 3, só para ficar com os 10 mais assíduos comentaristas deste blog.

Volto na primeira semana de janeiro, para a segunda temporada do Blog do Alencastro. Até breve.

Prêmios, prêmios...

Ontem à noite foi divulgado, no Masp (meio vazio), o resultado da premiação do IAB/SP. Algumas surpresas. Bom, Marcelo Suzuki ganhou o prêmio Rino Levi como o Fórum de Cuiabá (imagem que ilustra o post), que havia passado quase incógnito pelo júri da 6ª BIA - que premiou a escola do FDE do MMBB e uma praça particular de Isay Weinfeld.

Outro inesperado resultado do prêmio IAB/SP, que deve ter causado uma úlcera em alguns projetistas: a escola particular de Biselli e Katchborian, que subverte a espacialidade do brutalismo paulista, ganhou das propostas públicas de Bucci/Puntoni e de Ubyrajara Gilioli, que ficaram em segundo plano, com menções honrosas.

Já o Museu Rodin - que inaugura hoje e ganhou um prêmio na Argentina e outro na Bienal de Brasília - não tem valor nenhum para o júri do IAB/SP...

...e vai longe

"Niemeyer é orgulho para todos nós pelo que projetou aqui e fora do Brasil na nossa arte contemporânea", disse Aldo Rebelo na abertura do "Ano de Centenário de Niemeyer", na Câmara dos Deputados, também na sexta.

A casa também lançará selo e livro com reproduções das plantas originais do prédio. Isso vai longe... no final do ano, Niemeyer não terá mais casquinha nenhuma.

Já começou...

"Temos de ter muito orgulho de viver num País que tem como filho Oscar Niemeyer", diz Lula na inauguração do complexo cultural da República, na sexta-feira.

99 anos...

Oscar completa hoje 99 anos! Longa vida ao velho! Mais 99 anos pela frente! Mas vai ser difícil enfrentar o próximo ano: homenagens, inaugurações, bustos, livros etc...

Os puxa-sacos de plantão já estão no Rio de Janeiro. Mas o velho não quer saber de festa: isso por quê, na hora do parabéns, o coro iria vibrar no trecho do "com quem será, com quem será que o Oscar vai casar..."

"O Brasil é tão bom quanto seu voto"

Atenção tietes: querem votar no Paulo Mendes da Rocha para mais um prêmio? Basta clicar aqui.

Trata-se do prêmio Faz diferença, promovido pelo jornal O Globo, que tem o objetivo "a escolher as pessoas que mais se destacaram ao longo de 2006". Esta é a 4ª edição do prêmio "uma iniciativa para homenagear os brasileiros que mais contribuíram, com seu trabalho, para mudar o país", relata o site.

Dentre as 14 categorias, Mendes da Rocha concorre na O País, disputando com Antônio Fernando de Souza (procurador-geral da República) e com o Grupo Cidadania Feminina. Mas não é só o voto popular que conta. São cinco os votos: "três de jornalistas do GLOBO [Jorge Bastos Moreno, Silvia Fonseca e Tereza Cruvinel]; um dos vencedores do ano passado [no caso, Fernando Gabeira]; e o resultante da consulta popular através do Globo Online".

Mas corram: as votações vão até dia 17.

Casa Cor de arquitetos?

Esta ficando pronta a casa de Shigeru Ban em Sagaponac, condomínio idealizado por Harry Brown, situado em Hamptons - endinheirada área praiana próxima à Nova York.

A idéia do Sagaponac, pensado com a ajuda de Richard Meier, foi convidar conhecidos arquitetos internacionais - como Zaha Hadid, MVRDV, Richard Rogers e Steven Holl - para desenhar as 35 casas. Todos tiveram carta branca para criar (ou seja, sem cliente), mas dentro de um orçamento limitado (os preços iniciais de venda eram entre 750 mil e 2,5 milhões de dólares). A implantação geral é a mais careta possível, com lotes divididos de forma convencional.

As primeiras a ficarem prontas foram as das irmãs Hariri, a de Henry Cobb (ex-sócio de Pei) e a de Annabelle Selldorf. Além da casa de Ban, estão em execução outras quatro, entre elas a desenhada pelo escritório Smith-Miller+Hawkinson.

Agora, caretinha esta casa do Ban, não?

"...um mostro com a boca aberta..."

Na segunda-feira passada, Lula disse que quem tem mais de 60 anos e é de esquerda, tem 'algum problema'. Ontem, em Brasília, alguns senadores disseram que ele estava atingindo Niemeyer, que, depois de amanhã, completa 99 anos, e possui antigas convicções políticas.

Mas, apesar do aniversário, quem ganha o presente é outro personagem que tem 'algum problema': Fidel Castro, que ganhará uma escultura a ser instalada em uma praça junto a Universidade das Ciências Informáticas, em Havana.

Segundo o site G1, "a obra pesa 9,5 toneladas e representa um monstro com a boca aberta e um cubano encarando-o de frente e empunhando uma bandeira". Que medo, heim?

Que casal perfeito!!

Vocês sabem o que Angelina Jolie deu de presente de aniversário para Brad Pitt? Não, não é nada impróprio para menores... O presente foi uma visita a Fallingwater House, a mais famosa casa criada por Frank Lloyd Wright.

Brad Pitt, que já anunciou que iria deixar o cinema para dedicar-se a arquitetura, passou este ano uma temporada no escritório de Gehry. "Ele é incrivelmente bem informado sobre arquitetura", disse Cara Armstrong, que é curadora da Fallingwater, depois de uma conversa com o astro de Hollywood.

A visita aconteceu quinta-feira passada, dia 7, apesar do aniversário ser só dia 18. Eles fizeram uma visita exclusiva de duas horas pela casa. Depois do tour, Angelina abriu uma garrafa de champagne e serviu caviar para uma comemoração privada na sala de estar da casa.

Isso é que é mulher, heim?

Domus em mudança

Depois de terminar os três anos de contrato, Stefano Boeri está deixando a edição da Domus. O convocado para assumir o posto de editor é Flavio Albanese, que assume a direção da revista em janeiro. Albanese lidera o escritório ASA Studio Albanese, sediado em Vicenza, que realiza renovações em edifícios históricos.

Ele ainda não definiu uma linha editorial, mas revelou que gostaria dar mais espaço para temas teóricos e políticos. "Eu não irei mudar necessariamente tudo, a Domus é uma bela revista e, como diz o provérbio, não se pode jogar o bebê junto com a água suja da banheira", relatou.

Que frase banal, heim? Será que ele aguenta o tranco?

Amnésias topográficas

Acaba de ser anunciado o resultado do prêmio AR Awards for Emerging Architects 2006, promovido pela revista inglesa The Architectural Review. Esta é a sétima edição do AR Award, que destina-se a arquitetos de até 45 anos de idade, tradicionalmente é publicado na edição de dezembro.

O júri foi composto por Christine Binswanger (do escritório suíço Herzog & de Meuron), Peter Davey (ex-editor da The Architectural Review), Mark Dytham (do escritório japonês Klein Dytham), Kim Herforth Nielsen (3XN, Aarhus), Benedetta Tagliabue (EMBT, de Barcelona) e Paul Finch (atual editor da The Architectural Review).

Este ano, pela primeira vez, aparece um brasileiro entre os premiados: o trabalho Topographical Amnesias, do escritório Vazio S/A Arquitetura & Urbanismo (de Belo Horizonte), recebeu uma menção honrosa. O projeto, desenvolvido por Carlos Teixeira, já é conhecido do público: foi publicado na Abitare e, uma variação dele, foi exposta em 2004 no pavilhão brasileiro da Bienal de Veneza. A idéia, que se apropria de "palafitas sob os prédios", foi criado para abrigar um peça teatral.

Este trabalho tá rendendo, heim?

A forma segue o fiasco

Terça-feira passada, em Connecticut, Peter Blake morreu aos 86 anos. Quem informa é NYT.

Blake nasceu em Berlim em 1920 em uma família de origem judia endinheirada. Com a guerra, perderam tudo e fugiram para Londres. Lá ele estudou arquitetura. Em seguida, migrou para os Estados Unidos, trabalhou com Louis Kahn e se naturalizou. Foi curador de arquitetura do MoMA (foi ele quem montou a exposição de Marcel Breuer em que foi construída uma casa nos jardins do museu) e também projetou diversas casas em Long Island, algumas das quais, muito interessantes.

Ele trabalhou em algumas revistas de arquitetura (foi editor da extinta Architectural Forum) e também escreveu diversas monografias de arquitetos (entre eles, Frank Lloyd Wright, Le Corbusier, Mies van der Rohe e Philip Johnson), sempre louvando o modernismo.

Em 1977, teve a coragem de escrever o clássico Form Follows Fiasco: Why Modern Architecture Hasn’t Worked, em que ataca parte daquilo que passou a vida defendendo. Mas tarde, em 1993, escreveu suas memórias, No Place Like Utopia: Modern Architecture and the Company We Kept, um divertido e também revelador livro com os bastidores da arquitetura moderna.

Gostaria de tê-lo conhecido pessoalmente; apesar de ter tentado, nunca nos encontramos. Fica para a próxima, Peter!

Paz ao espírito

Renzo Piano tem um grande desafio em sua prancheta: ele já está trabalhando no projeto de um convento junto a capela Notre Dame du Haut, em Ronchamp, de Le Corbusier, construída em 1955. É isso que informa a matéria no The Guardian, publicada na segunda-feira passada.

De fato, os 100 mil turistas que passam todo ano pela capela - a obra de Corbusier mais visitada da França -, estão perturbando "o senso de espiritualidade do lugar". Para restaurar este espírito, Piano foi chamado pela paróquia local, dona da obra-prima arquitetônica, para desenhar um espaço mais reservado para as freiras que habitam o anexo criado pelo mestre franco-suíço. O projeto corre contra o tempo, pois a capela está prestes a ser aclamada Patrimônio da Humanidade pela Unesco.

"É claro que é inacreditavelmente difícil construir próximo a capela de Le Corbusier", disse Piano ao jornal inglês. A obra deve ser concluída em 2008. É esperar para ver: quem já foi, terá motivo para voltar; quem não conhece, ganha nova razão para planejar a viagem...

The voice (2)

Quer ouvir outros arquitetos falando? Agora é a vez de Harvard colocar na web algumas conferências realizadas na Graduate School of Design. Entre as 15 palestras disponibilizadas, destacam-se as de Rem Koolhaas, Jan Kaplicky (Futures Systems) e Ben Van Berkel (UN Studio).

Serão estas as vozes da contemporaneidade?

Mulheres, mulheres...(2)

Enquanto isso, na Suécia, Rahel Belatchew Lerdell foi eleita 'o arquiteto do ano', prêmio organizado pela revista local Residence Magazine.

Nascida na Etiópia em 1969, Rahel cresceu na Suécia mas se formou em Paris. Depois da graduação, trabalhou em Paris, Luxemburgo e Tóquio. Em 2000, estabeleceu-se na Suécia. A moça tem obras publicadas em várias revistas e tem até um blog!

Bom, pelo menos por lá as coisas parecem estarem melhores do que por aqui...

Mulheres, mulheres...

Hoje, arquitetura é quase uma profissão feminina: as mulheres são maioria; nas faculdades, por exemplo, elas são mais do que 75%. Pois a Revista Forbes, publicou a terceira edição do prêmio Mulheres mais Influentes do Brasil. Entre as indicadas na categoria Decoração/Arquitetura, estavam Paula Mattar, Ana Lúcia Siciliano e Ângela Tasca.

Bom, em festa no terraço Daslu na semana passada, Paula Mattar (que fez a casa que ilustra o post) foi a escolhida. Eu, se fosse mulher, iria protestar...

Michelangelo uma ova!

Esse sujeito do auto-retrato era genial. Saul Steinberg (1914-99) acaba de ganhar duas retrospectivas em Nova York: a primeira, na Morgan Library & Museum (aquela recentemente ampliada pelo Renzo Paino) chama-se Saul Steinberg: Illuminations, possui mais de 100 desenhos e colagens do artista; já o Museum of the City of New York apresenta a exposição A City on Paper: Saul Steinberg’s New York.

Ambas são destaque no caderno cultural do NYT. Na Morgan, Steinberg fica em cartaz até 4 de março; no outro espaço, até 25 de março. Tô pensando em pegar um avião só para vê-las.

Que sapato estranho, heim?

Este é mais um projeto dos suíços Herzog & de Meuron. Trata-se da sede da filarmônica de Hamburgo, Alemanha, a ser criada dentro de um prédio histórico, construído em 1875, que abrigou a primeira doca do importante porto.

A sala de concerto "será uma das melhores do mundo. Ela poderá ser usada para música clássica, assim como jazz, world music e pop. O auditório maior terá aproximadamente 2.150 lugares", informa o site do projeto. Além dos espaços para música, o complexo (chamado de Elbe Philharmonic), abrigará ainda unidades residenciais. A inauguração do conjunto, cujas obras serão iniciadas em abril próximo, está prevista para 2009. O custo? Só 240 milhões de euros.

Agora, perguntar não ofende: por que me ensinaram que, para uma orquestra, a sala com acústica ideal é aquela cujas dimensões são proporcionais ao famoso formato de caixa de sapato?

Com açúcar e com afeto (2)

O projeto de Piracicaba, alvo do post de ontem, segue seu rumo. O prefeito disse que a restauração do conjunto começa em 2007. Alguns pontos seguem sem esclarecimento, tais como a demolição de cinco entre os 17 existentes. É o que informa o jornal local.