28 setembro 2007

Fineza


A aU foi cobrir a Bienal de Buenos Aires e resolveu fazer um blog com os bastidores da cobertura. Certamente, a idéia é positiva pois dá agilidade e aproxima o leitor da revista. Mas também expõe demais algumas coisas. Um exemplo? Pela própria dinâmica, um blog pede postagens com ritmo diário. Ás vezes, não há o que dizer. Mas para a redação, torna-se uma obrigação. E entre as coisas que nunca seriam publicada na revista, há uma pérola como a entrevista com o Paulinho. Leia e vejam se é possível:

"Após a conferência de nosso Pritzker, me acerquei com toda calma, educação e profissionalismo (sem exageros) e lhe pedi uma entrevista rápida. “Claro”, me respondeu. Enquanto subíamos as escadas do auditório, aproveitei para começar as perguntas, um começo leve – sobre a Bienal, as conferências – e já escuto um levantar de voz. Mudei de assunto “talvez o que ele queira é falar sobre crítica”, pensei, inocente, e tentei discutir mais o fazer arquitetura. “Aqui não é lugar para isso”.

Aqui, a entrevista:
aU – É a primeira vez que o senhor vem à Bienal de Buenos Aires?
Paulo Mendes da Rocha – Eu estou sempre em Buenos Aires.
aU – Na Bienal...
Mendes da Rocha – É a primeira vez.
aU – Chegou a ver outras conferências...
Mendes da Rocha – O que você quer saber???
aU – Eu quero fazer uma entrevista sobre você aqui na Bienal.
Mendes da Rocha – Mas porque você quer saber se eu vim em outras entrevistas, eu não estou entendendo nada.
aU – Outras conferências. Nós estamos tendo conferências aqui desde...
Mendes da Rocha – Vi, vi, vi. Outras, vi. Eu vi, vi quase todas. Muito interessantes. Particularmente muito interessante a de Solano, do Paraguai, hoje de manhã.
aU – Por que trazer aqui na Bienal de Buenos Aires três obras que não são do Brasil?
Mendes da Rocha – Bem, arquitetura não tem nada que ver com isso. Onde está? Pode estar em qualquer lugar. Não pensei nisso. E depois, fui eu que fiz os projetos. Onde estou é Brasil.
aU – Mas tem a questão do local onde a obra está, não?
Mendes da Rocha – Mas onde estamos, está o Brasil.
aU – Como você vê a arquitetura aqui na Argentina e na América Latina...
Mendes da Rocha – É uma pergunta muito ampla, você não pode me perguntar como eu vejo a arquitetura... Daqui onde estamos não se vê. Você está louca. Isso não é entrevista para esse momento.
aU – E o que seria uma entrevista para esse momento?
Mendes da Rocha – Não sei, meu bem, mas você não vê que não dá para refletir, coisas complicadas. Como eu vou te dizer como eu vejo a arquitetura? Eu vejo com grande entusiasmo, que estamos cuidando da cidade contemporânea...
aU – Estamos cuidando da cidade contemporânea?
Mendes da Rocha – Eu vejo, acho que sim, você não viu esses projetos expostos quase todos têm essa preocupação.
aU – Você disse, na palestra, que a essência da cidade é o povo e depois disse que a essência também é a política. É a política ou é o povo?
Mendes da Rocha – Ué, mas política quem faz é o povo. Não existe política de pulga, de rato, de macaco. Você está fazendo perguntas que não é para esse ambiente. Você não entende nada. Isso são princípios meio filosóficos, não dá para falar aqui, isso não é entrevista para esse momento, entende. Tinha que ser não séria, como vai você, você gostou e tal, e acabou.
aU – Você gostou?
Mendes da Rocha – Gostei muito."


Eu, heim?

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27 setembro 2007

Livros, livros...

Outro dia, em uma livraria carioca, me deparei com um volume novo e luxuoso, sobre a obra de Eduardo Ribeiro Rocha - ops, quero dizer Edo Rocha (não sei se alguém já viu em São Paulo). Ao que parece, será lançado oficialmente em novembro na Bienal. Grande formato, capa dura, edição caprichada, textos de apresentação de peso (Eduardo de Almeida e Pedro Paulo de Melo Saraiva), enfim, tudo de bom. Ou, quase tudo. O problema é o conteúdo: um belo portfólio!

Nada contra aquitetura corporativa, mas vale um livro tão bem-feito? Para quem interessa, é claro, além da enorme vaidade do autor? Dentro, poucas surpresas. Uma delas é a imagem da proposta para o esqueleto da Eletropaulo (parece que o Arquitectonica tomou conta de tudo e o projeto de Edo foi para a gaveta...). A outra surpresa? A casa do Wesley Duke Lee em Campos do Jordão: quem diria que era do Edo?

Mas o livro do Edo (editado pela Bei) é só o trampolim deste post: o foco é o mercado editorial em si. Depois do boom dos anos 90, quando quase todos os arquitetos históricos foram brindados (ou pagaram) com luxuosos volumes, ultimamente a coisa desandou: é cada livrinho sem importância que se faz por aqui! E olha que faltam ainda algumas lacunas a serem fechadas. Quem arrisca dizer qual é a maior? Chega de livros do Niemeyer! Editores: cadê o livro do Carlos Millan? E do Salvador Cândia? Ô Márcio: cadê o livro dos irmãos Roberto, heim? E tem mais: o Borsoi, o Luiz Amorim, o Croce Aflalo & Gasperini, o Pedro Paulo de Melo Saraiva, o Eduardo Longo... E o Sérgio Bernardes, heim Thiago? E o Heep, heim Marcelo?
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Acompanhando a inutilidade de algumas publicações recentes, em breve teremos um volume com os melhores posts do Alencastro!

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25 setembro 2007

Arquitetura falada

"Não existe diferença entre a arte do passado e a arte nova; o que existe é diferença entre a arte de boa ou má qualidade". Quem disse isso? Se você pensou em Pietro Maria Bardi não se enganou completamente. Mas agora quem refaz tal afirmação é Peter Zumthor em um vídeo recente.

Em sua fala não há novidade - o ponto mais interessante é quando esclarece a diferença entre o seu trabalho e aqueles que buscam o 'efeito Bilbao'. Mas vale a pena para ouvir ele falando - em alemão (com legendas em inglês) - e para ver imagens de seu novo projeto, o Museu Kolumba, em Colônia, Alemanha (tem outro vídeo, parte 2, só com imagens do museu).

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24 setembro 2007

Pecados arquitetônicos?


Hoje o Wisnik deu um pau no Biselli em sua coluna semanal na Folha (disponível só para assinantes do jornal ou do UOL). O contexto do ataque foi o livro recém-publicado, com texto do Sandro. Leiam um trecho:

"...continuam essencialmente pós-modernos, agenciando "estilos" em operações compositivas. Tal agenciamento é, sem dúvida, habilidoso. O que faz com que sua obra se destaque do padrão médio, alçando-se muito acima, em termos de qualidade, da arquitetura corporativa que se faz hoje em São Paulo. Digo isso porque o porte dos projetos recentes do escritório os credencia a ocupar esse mercado.


Contudo, nota-se também uma clara ambição autoral em sua produção, sobretudo naquela de maior escala, afirmando-se através de uma gestualidade plástica invocada como um processo de "redescoberta formal de Oscar Niemeyer". Ora, mas o que significa "redescobrir" Niemeyer a essa altura do campeonato, como que pinçado num catálogo de referências? Os arquitetos, ao que parece, assumem com naturalidade os princípios compositivos como ferramenta principal de projeto, bem como o uso de determinados materiais como marca, assinatura. Fica, no entanto, a pergunta: o que os afastaria do mero estilismo? Nem toda arquitetura solicita um enorme esforço de justificação teórica. A maioria, aliás, não. É produção corrente, de maior ou menor qualidade"


Resumindo: o cara cria uma arquitetura de mercado, tem ambição autoral, mas no fundo é um estilista. É isso mesmo?

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20 setembro 2007

Arquitetura na piauí (2)

Como prometido desde o início, a revista piauí tem dado destaque - direto e indireto - as questões da arquitetura. Por aqui, acompanho desde o início. De fato, arquitetura apareceu com um pouco de atraso, no n°5 (fevereiro), mas valeu a espera. Depois, foram publicados diversos textos que não comentei. Vale fazer um breve retrospecto.

-No número 6 teve a história do roubo da escultura do Flávio de Carvalho realizada por alunos da FAU/USP e ECA, entre eles o Fernando Meirelles, escrita pelo Cadão Volpato (comentada aqui);


-No número 7, Daniela Pinheiro nos brindou com uma pérola que deu o que falar nos círculos da arquitetura corporativa de São Paulo. O texto é sobre as baladas paulistanas. E ai? Cadê arquitetura? O problema que o maior bocó retratado é filho de Sérgio Athiê, arquiteto do setor e não muito bem visto por aqueles que são contra a tal da 'reserva técnica'. Um trecho da matéria:

"Vip, como se sabe desde que balada era um tipo de canção dos Beatles, quer dizer very important people. A expressão designava pessoas muito importantes. Um rapaz paulista chamado André Athiê não tem importância na Lapa, em São Paulo, no Brasil, na Terra e na ordem geral do universo. Mas como, desde que a Pacha foi aberta, há cinco meses, ele esteve cerca de cinqüenta noites na casa, ele pertence a uma categoria especial. Athiê comemorava seu aniversário de 20 anos naquela sexta-feira. Por 4 mil reais, ele comprou dois camarotes, e ganhou outro de graça por ser um habitué. Seus 40 convidados não deveriam pegar filas nem pagar nada. Mas a malta dos anônimos gritões lhes atrapalhava o acesso";


- No número 9, Serapião escreve sobre a Fundação Iberê Camargo. Sobre Siza, ele escreveu:

"Em sua boca, há sempre um Marlboro aceso. Fuma três maços por dia, sem tragar. Sua estatura é baixa, seu semblante, triste. Tímido e reservado, pouco fala de sua vida particular. Quando o faz, a voz sai baixa e pausada. Sua reclusão aumentou depois que ficou viúvo, aos 40 anos, com um casal de filhos. Nunca mais se casou"


-No número 11, um texto de Maria da Paz Trefaut sobre o Delija, ou Alexandre Delijaicov - para os íntimos - o arquiteto que acreditou que a bicicleta é um meio de transporte. Leia um trecho:

"À primeira vista, Delija, como os alunos se referem a ele, é um homem calmo, de fala lenta e sincopada. Alto, magro, de cabelos pretos bem curtos, tem a fisionomia marcada por óculos retangulares, cuja armação marrom acompanha só a parte de cima das lentes. Quando ele começa a se agitar, o que será perceptível apenas mais tarde, os óculos se inclinam e perdem a simetria no rosto"


-Por fim, no número 12 (que está nas bancas), Serapião faz reportagem sobre a trágica construção do teatro do Mam/RJ, de Reidy, assunto de um antigo post. De dar vergonha do Iphan e do Mam. E ninguém fala nada.

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19 setembro 2007

Sem emoção

Daqui a pouco teremos uma palestra de Ricardo Legorreta na Faap, em São Paulo. Ontem ele esteve no Rio, lançando um livro na Bienal. Niemeyer, que também está ganhando um livro da mesma editora, não foi. Mandou uma carta, lida pelo neto Caique.

O livro não é usual: parece dois livros paralelos com uma sobrecapa que protege tudo. O texto, feito através de diversas entrevistas com o autor, é didático. Sua presença no Brasil despertou grande repercussão midiática, com direito, entre outras coisas, a quatro páginas na Veja (em matéria escrita por Thomaz Souto Corrêa, vice-presidente do conselho editorial da Abril) e matéria no Jornal da Globo de ontem. Na Veja, ele disse: "Arquitetura sem emoção não é arquitetura".


Mas a verdade é que, depois de tantos anos e de Barragán, sua arquitetura - samba de uma nota só - não emociona mais. Principalmente, quando ganha escala. Nas casas, ainda funciona. Mas nas obras de porte, na busca por formas puras, mais parece um Pei de barro colorido...

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13 setembro 2007

Arquitetura na Trip

Vocês viram a Trip #159? A edição que está nas bancas tem como tema "o teto e todos os seus significados", na palavras de Paulo Lima. O editor convidado é Ciro Pirondi. Claro que tem arquietura e arquitetos para todos os lados, a começar pela entrevista, com Marcelo Rosenbaum - arquiteto sem diploma. Há ainda entrevistas menores com Lelé e Paulo Mendes da Rocha e textos sobre a relação dos arquitetos modernos e as casas, sobre edifícios neoclássicos em São Paulo, sobre Barcelona, tem a visita de Mindlin a biblioteca do rapper etc. etc. etc.

Ah, eu já estava esquecendo: o editorial de moda é com parte dos rapazes da General Jardim fotografados junto com seus sofás! Isso mesmo! Vai, até que é divertido...

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12 setembro 2007

Nova fase

Vocês viram o novo prédio do Ruy Ohtake na Paulista? Que meda!

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10 setembro 2007

"...mas desse detalhe eu não estou a par"

E a história da biblioteca de Brasília, heim? Depois de matéria na quinta-feira, rendeu até editorial na Folha de ontem (só disponível para assinantes). O texto de ontem, termina assim:

"Dada a subutilização, o edifício se prova um exemplo tipicamente brasileiro, que se repete em outras esferas públicas, de desperdício de recursos e erros de planejamento. Tais trapalhadas político-administrativas comprometeram um bom projeto, que terá de ser desfigurado para que possa atender aos cidadãos."

É interessante que esse tipo de assunto se torne mais frequente na imprensa em geral (vocês leram o texto na piauí de setembro sobre o absurdo que fizeram no teatro do Reidy?), mas chamar aquilo de bom projeto, não é exagero?

Sobre os problemas no projeto, veja o que diz o projetista: "Eu gosto muito da biblioteca, porque ela está defronte ao museu [da República] e combina bem. É uma biblioteca moderna, com tudo o que é preciso, mas desse detalhe eu não estou a par".

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05 setembro 2007

Moby Dick (2)

Primeiro a notícia, depois a imagem e, agora, a obra concluída: olha ai o pavilhão da Serpentine Gallery 2007! Inaugurou no final de agosto e fica aberto até 5 de novembro. Em Londres, off course!

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04 setembro 2007

Tá procurando uma casa?

E ai? Ganhou mais de 3,750 milhões de dólares especulando com as turbulências do mercado? Que tal comprar uma casa de Frank Lloyd Wright?

O problema é que só tem dois quartos e fica em Minnesota...

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