12 novembro 2008

Os iluminados

Olha, pela primeira vez vou ter que concordar com uma opinião do Nini e o Paulinho. Hoje na coluna da Mônica Bérgamo (somente para assinantes da Folha ou do UOL), ambos se colocam contra o corporativismo de seus colegas - expresso pelo Sinaenco, que se posicionou contra a contratação do Herzog & de Meuron para reformar a rodoviária da Cracolândia.

Niemeyer afirmou: 'Não vejo sentido em hostilizar estrangeiros que trabalhem no Brasil. Faço vários trabalhos no exterior e não sou hostilizado.' E o Paulinho emendou: 'Um governo tem que ter liberdade no campo da cultura para contratar quem ele quiser, nacional ou estrangeiro, desde que o critério adotado seja o do notório saber. Essa independência é bem-vinda e importante para todos'. Olha ai: bravo, dou a mão a palmatória.

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11 novembro 2008

Ah, essas revistas...

A próxima edição da revista Nosso Caminho (aquela do velhinho...) dará um furo de reportagem: em entrevista a Fernando Morais, Lula afirma que Dilminha é sua escolhida para sucedê-lo. Quem informou foi a coluna Painel, da Folha. O presidente disse que "nenhum outro partido tem um candidato com a história e a qualificação da Dilma".

Eu não sei com é que eles conseguiram dar esse furo, heim? Como? Como a Domus, em mais de 80 anos de história, nunca pensou em entrevistar um presidente da república? Como a centenária Architectural Review não pensou nisso antes? Isso é que é vanguarda!

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07 janeiro 2008

Bad news

Nada de feliz ano novo etc e essas babaquices de sempre: o ano começa com duas péssimas notícias para o meio arquitetônico. A primeira é o veto ao CAU. Que vergonha, Lula! O que é isso D. Clara? Agora, é esperar para ver o que vai acontecer. Os otimistas acham que ainda dá jeito; os pessimistas, crêem que foi tudo para o vinagre...

A segunda notícia ruim do ano é, depois de quase dois anos de existência, o fim da coluna do Wisnik na Folha, anunciado hoje. O que aconteceu? Aquele espaçozinho embaixo da da Mônica Bérgamo foi extinto em pró do sucesso da moça. Os colunistas que lá davam expediente, foram remanejados. Quem caiu fora? Só o Wisnik - e o Marcos Augusto Gonçalves (que é editor da Ilustrada). O que é isso, Otavinho? Ô Marcos Augusto Gonçalves! Tudo bem que eu tinha cá minhas críticas pontuais quanto ao conteúdo da coluna, mas, ao menos, era um espaço fixo para o tema dentro de um grande jornal - coisa que o Estadão (seu concorrente direto) não tinha nem tem. Perdemos todos.
Protestem: mandem carta sobre o CAU para o Lula (https://sistema.planalto.gov.br/falepr/exec/index.cfm?acao=email.formulario&CFID=3603770&CFTOKEN=86533990) e liguem para a Clara Ant (61- 3411.1792); e reclamem também com o jornal (leitor@uol.com.br) e com o Mario Magalhães, o ombudsman da Folha (ombudsman@uol.com.br) .

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04 outubro 2007

Pecados arquitetônicos? (2)

Em relação ao polêmico texto do Wisnik publicado em sua coluna na Folha no dia 24 de setembro - em que o autor comenta a obra de Biselli e Katchborian (assunto de um post), recebi uma carta que circula na internet. Quem me passou pede anonimato - mas posso garantir que é um leitor ilustre deste blog.

A carta foi escrita por Julio Vieira, arquiteto formado no Mackenzie em 1987 e que durante mais de 10 anos foi funcionário da Itauplan. Como profissional assalariado, entre outras coisas, ele desenhou aquela interessante agência do Itaú na Berrini, aquela outra em frente ao Pacaembú, e um edifício na Faria Lima. Hoje, Julinho tem escritório próprio e é professor no Mackenzie. Enviada a redação da Folha, a missiva não foi publicada. Para estimular o debate sobre o tema, publico-a aqui - sem autorização do autor, que, se desejar, tiro-a do ar. Ai vai:


"Carta aberta ao Sr. Guilherme Wisnik

Tendo lido seu texto publicado na Folha de São Paulo (24/09/2007) sobre o recém-lançado livro da dupla de arquitetos paulistas Biselli e Katchborian, em uma coleção intitulada “Arquiteto Contemporâneo Brasileiro” (Ed. Romano Guerra, 2007), com textos de Alessandro Castroviejo e Mario Figueroa, tive a curiosidade inicial de saber o que pensava o autor que, junto com Ana Vaz Milheiro e Ana Luiza Nobre, publicou recentemente (2006) o livro “Coletivo: Arquitetura Contemporânea Paulista”, sobre a produção de seis escritórios paulistanos, todos compostos por ex-alunos da FAUUSP.

Naquela ocasião, ninguém com quem tive a oportunidade de comentar o fato, duvidava da qualidade daquela produção, nem questionava o direito legítimo desses arquitetos de publicarem seus trabalhos, contribuindo assim para a discussão dessa produção contemporânea, ainda em curso. O que as pessoas questionavam, muito justificadamente, era a inadequação do título que, impreciso e generalizador, insinuava ser um recorte na produção contemporânea em São Paulo, quando na verdade sabemos que este não se expandiu além das cercanias da cidade universitária, no Butantã.

Diante deste quadro, não tinha muitas expectativas de um relato entusiasmado da sua parte, uma vez que não somente a produção de Biselli e Katchborian, mas uma vasta produção de boa arquitetura em São Paulo, havia sido ignorada naquela edição.

O que de fato surpreendeu foi a forma descuidada com que o Sr., autor de reconhecido valor, procurou estruturar sua crítica. Por meio de um texto excessivamente superficial e apressado, vago e aparentemente inacabado, o Sr. deixou rastros indisfarçáveis de preconceito e arrogância. Primeiro, ao aludir às declaradas referências projetuais de forma pejorativa e desrespeitosa. Depois, em uma decisão de deliberada má fé, ao eleger como gancho de sua argumentação a referência a Oscar Niemeyer, quando os arquitetos, na verdade, só sutilmente a invocam para justificar certos procedimentos de linguagem, como o texto de Castroviejo bem percebe:
“Nas obras mais recentes, insinua-se uma admiração por Oscar Niemeyer, embora nada em suas obras indique algo próximo de uma postura ou programa de arte que problematize a brasilidade, os regionalismos ou coisas afins.”
É preciso dizer algo mais?
Fica evidente o compromisso de Biselli e Katchborian – e a dupla deixa isso bem claro – com a discussão internacional, esta sim merecedora de maior destaque em qualquer crítica que se possa fazer dessa produção.

Outro ponto curioso em sua argumentação trata da suposta “ambição autoral” dos arquitetos, como se fosse possível e desejável a qualquer pessoa prescindir desse direito legítimo, mesmo quando o discurso possa apontar para uma inconvincente autoria coletiva – o que de fato não acontece de forma estrita nem mesmo com o grupo que consta de sua já referida publicação. Nunca é demais lembrar que Biselli e Katchborian têm em seu currículo a participação freqüente de uma variedade ampla de colaboradores, alguns bem conhecidos de nosso meio.

Me surpreendeu também a forma negativa com que o Sr. se referiu à discussão da pós-modernidade (que o Sr. chamou de moda) reivindicada pelos arquitetos em seus trabalhos inaugurais.
Não vejo necessidade de tentar explicar a importância que essa discussão teve para àqueles que, como eu, se formaram naquela época no Mackenzie, até porque o texto de Castroviejo expõe esse quadro com muita competência. O que causa perplexidade é constatar seu aparente desprezo pela matéria, sendo o Sr. um respeitável crítico de arquitetura contemporânea.

Outro caso flagrante de preconceito se nota ao sugerir o texto uma certa vocação do escritório para se destacar em meio à produção corrente de arquitetura corporativa, cujo valor o Sr. indisfarçavelmente questiona . Pior ainda quando chama de “mero estilismo” aquilo que qualquer arquiteto competente identificaria como valores de uma boa arquitetura. E ainda, num gesto ensaiado de complacência, alude para a destacada habilidade dos arquitetos no agenciamento das operações compositivas, mas adverte:
“Nem toda arquitetura solicita um enorme esforço de justificação teórica”.

Finalizando, o Sr. ensaia timidamente uma argumentação para justificar um problema constatado na transposição dos projetos (muito bem proporcionados e representados pelos desenhos e perspectivas eletrônicas) para as obras construídas, sugerindo uma redução de qualidade nesse processo, explicada em parte pela insuficiência de recursos de nossa tecnologia local. O que parece ser um falso argumento quando se olham com atenção as imagens e fotos que o livro nos expõe. Fotos que resistem a uma aproximação maior da câmera, coisa rara nas publicações mais recentes.

Enfim, o Sr. suprimiu informações fundamentais em sua crítica e deixou um grande vazio no lugar, esquecendo-se de falar, por exemplo, da rica espacialidade dos edifícios e da consistência das propostas plásticas. Da singularidade da investigação proposta por Biselli e Katchborian, sem amarras ideológicas e conceituais, e da grande sensualidade e prazer que advém dessa experiência, não competindo a nós saber de antemão a real contribuição que esta produção legará para a história.

Ou seja, faltou ser honesto. Honestidade que não faltou ao texto de Castroviejo e às inúmeras imagens e desenhos presentes no livro. O que facilita muito o meu trabalho aqui, pois o livro é muito bom e fala por si, sobretudo para aqueles arquitetos que, como eu, gostam de boa arquitetura e dispensam a mediação de qualquer crítico.
Agora, o que dizer a respeito do fato em si? O que o levou a ser tão parcial em suas avaliações?
Bem, talvez este seja um tema para se discutir em algum fórum específico. Tenho motivos para acreditar que a aderência seria ampla e deixo aqui a minha sugestão para um título apropriado:

“Da arquitetura corporativa e da corporativista”


Respeitosamente.
Arqto. Julio Vieira."

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24 setembro 2007

Pecados arquitetônicos?


Hoje o Wisnik deu um pau no Biselli em sua coluna semanal na Folha (disponível só para assinantes do jornal ou do UOL). O contexto do ataque foi o livro recém-publicado, com texto do Sandro. Leiam um trecho:

"...continuam essencialmente pós-modernos, agenciando "estilos" em operações compositivas. Tal agenciamento é, sem dúvida, habilidoso. O que faz com que sua obra se destaque do padrão médio, alçando-se muito acima, em termos de qualidade, da arquitetura corporativa que se faz hoje em São Paulo. Digo isso porque o porte dos projetos recentes do escritório os credencia a ocupar esse mercado.


Contudo, nota-se também uma clara ambição autoral em sua produção, sobretudo naquela de maior escala, afirmando-se através de uma gestualidade plástica invocada como um processo de "redescoberta formal de Oscar Niemeyer". Ora, mas o que significa "redescobrir" Niemeyer a essa altura do campeonato, como que pinçado num catálogo de referências? Os arquitetos, ao que parece, assumem com naturalidade os princípios compositivos como ferramenta principal de projeto, bem como o uso de determinados materiais como marca, assinatura. Fica, no entanto, a pergunta: o que os afastaria do mero estilismo? Nem toda arquitetura solicita um enorme esforço de justificação teórica. A maioria, aliás, não. É produção corrente, de maior ou menor qualidade"


Resumindo: o cara cria uma arquitetura de mercado, tem ambição autoral, mas no fundo é um estilista. É isso mesmo?

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10 setembro 2007

"...mas desse detalhe eu não estou a par"

E a história da biblioteca de Brasília, heim? Depois de matéria na quinta-feira, rendeu até editorial na Folha de ontem (só disponível para assinantes). O texto de ontem, termina assim:

"Dada a subutilização, o edifício se prova um exemplo tipicamente brasileiro, que se repete em outras esferas públicas, de desperdício de recursos e erros de planejamento. Tais trapalhadas político-administrativas comprometeram um bom projeto, que terá de ser desfigurado para que possa atender aos cidadãos."

É interessante que esse tipo de assunto se torne mais frequente na imprensa em geral (vocês leram o texto na piauí de setembro sobre o absurdo que fizeram no teatro do Reidy?), mas chamar aquilo de bom projeto, não é exagero?

Sobre os problemas no projeto, veja o que diz o projetista: "Eu gosto muito da biblioteca, porque ela está defronte ao museu [da República] e combina bem. É uma biblioteca moderna, com tudo o que é preciso, mas desse detalhe eu não estou a par".

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04 junho 2007

Kamikaze

Vocês viram na Folha impressa de hoje (no UOL não tem o croqui) a primeira proposta de Niemeyer para transformar o prédio do Detran no MAC? Tá certo: criado para ser um prédio administrativo, certamente o edifício terá que sofrer alterações para abrigar um museu. Segundo a reportagem - de Fabio Cypriano -, o projeto dele está baseado em três pontos:

1. Mudar a circulação;
2. Destruir dois andares para aumentar o pé-direito em alguns pontos;
3. Fechar as aberturas de vidro, "para dar maior condição de abrigar exposições".

Até ai, tudo razoável. No entanto, ele afirmou que "será um novo edifício". O croqui que aparece na capa da Ilustrada é do fundo, com um aumento do volume da torre de circulação. A sutileza do desenho original dá lugar ao peso dos 100 anos nas costas. A capacidade dele estragar um prédio com interesse que ele mesmo fez está ficando cada dia maior. Imaginem como será que ele irá fechar os caixilhos?

Algum amigo terá coragem de dizer que assim ele irá acabar com o prédio ou a proposta terá que ser (novamente) barrado pelo pessoal do tombo?

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28 maio 2007

A sense of humor

O mais recente texto de Nicolai Ouroussoff no NYT - sobre o novo Instituto Holandês de Imagem e Som, criado pela dupla do escritório Neutelings Riedijk - ganhou versão em português no G1.

O prédio é envolto por vidros com imagens gravadas que, segundo o crítico, "travaram uma crítica séria de um mundo saturado por publicidade e imagens, e reafirmaram o valor heróico da arquitetura". Isso por quê, "a falta de clareza das imagens representa o bombardeio diário da internet, televisão, cinema e jornais, mas aqui parecem congeladas no tempo, como se estivessem temporariamente domadas". Será?

Ouroussoff, que compara o novo instituto à biblioteca de Gordon Bunshaft em Yale, escreve que "como muitos arquitetos, Neutelings e Riedijk lutam para chegar a um acordo com uma sociedade que está prestes a ser totalmente consumida pela publicidade global e as imagens de marketing. A arquitetura está, de modo mais disseminado do que se imagina, tornando-se uma ferramenta desses interesses".
Aproveitem: apesar de não trazer crédito ao crítico e mudar o título, mesmo para quem não gosta das opiniões de Ouroussoff, é uma rara oportunidade de lê-lo em nossa língua. Quando é que a Folha e o Estadão publicarão textos assim?

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03 abril 2007

"O" brasileiro

A Folha de domingo publicou enquete realizada entre 200 intelectuais, personalidades e afins, que responderam a seguinte questão: "quem é o maior brasileiro de todos os tempos?".

Ao todo, 70 pessoas foram votadas (só 4 mulheres!). O vencedor foi Getúlio Vargas, com 16 votos. O segundo Jucelino (15 votos) e o terceiro, Machado de Assis (13 votos). Em 4° lugar, Rui Barbosa (9 votos); em 5°, Tiradentes e Santos Dumont, empatados com 8 votos.

E quem vocês acham que divide a 6° posição, com sete votos, juntamente com José Bonifácio, Tom Jobim e D. Pedro 2º? Sim, ele, o único vivo! "O" Oscar!

Tá bom, houve um pouco de coorporativismo: três de seus votos vieram de arquitetos (Paulo Casé, Jaime Lerner e Sérgio Rodrigues). Os outros votos foram dados por Beatriz Milhazes, Fernando Moraes, Maurício Azêdo e Tônia Carrero. Ele próprio deu seu voto a Luiz Carlos Prestes (ganhou dois, outro do Eder Jofre).

E ainda há uma votação popular em que você pode votar em 12 personalidades; dentre eles, Niemeyer...

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20 março 2007

O fim do sebo mais bonito de São Paulo

Primeiro saiu na Folha. Agora na Carta Capital. A Ornabi, tradicional sebo paulistano que não gosta de ser chamado de sebo, irá fechar. Isso por que seu Luís, o português dono do negócio, resolveu voltar para a terrinha, aos 89 anos.

Ele promete liquidação total, até acabar com o estoque. Para nós, arquitetos, o filé mignon são publicações antigas da editora espanhola Gustavo Gili. Explico: nos anos 70, quando o representante da GG deu o chapéu na matriz, seu Luís comprou todo o espólio. Faz uns dois anos que pisei lá pela última vez e ainda tinha muita coisa. Para quem tem outros interesses, há muitas opções. Vale conferir.
A Ornabi fica no Edifício das Arcadas (tombado pelo Condephaat), na rua Quintino Bocaiúva, 176, sobreloja, sala 9 (tel.: 3105-1391 e 3105-6028)

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12 março 2007

Torre ou escola?

Ontem, a reportagem de Mario Cesar Carvalho na Folha (só para assinantes do Uol ou do jornal) revelou que a torre ao lado do Masp não será mais construída. A idéia era construir uma torre-observatório patrocinada pela Vivo sobre o edifício Dumont-Adams (imagem que ilustra o post). O texto informa ainda que o museu perdeu três disputas com a Prefeitura de São Paulo e outra na Justiça e que "nova proposta prevê escola de arte, restaurante e café no edifício Dumont-Adams, que abrigaria ainda parte da administração".
Se a idéia da torre era estapafúrdia, imagine só com o desenho de Júlio Neves, o presidente-arquiteto, que assinava o projeto. Agora, quem está por trás da reestruturação financeira do museu, que deve 10 milhões de reiais, é João Dória Jr.
Da torre escapamos, agora falta saber como será o projeto da escola. Ao ser indagado pela reportagem, Arnaldo Martino, presidente do IAB/SP, defendeu a realização de um concurso para a adaptação do prédio vizinho: "seria a solução mais democrática e o melhor para a cidade", afirmou. Será que é a melhor saída?

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