27 janeiro 2009

Acepipes

Na New Yorker da semana que vem, terá um texto de Paul Goldberger sobre o Alice Tully Hall, desenhado pela dupla do Diller Scofidio. O novo prédio é uma ampliação do Lincoln Center, em Nova York.

Como aperitivo, a revista colocou no ar um pequeno vídeo, de dois minutos, com Goldberger visitando a obra. Se a moda pega, heim?

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"um blog qualquer..."

Vocês sabem que a falta de assunto em janeiro é uma coisa séria... Pois é: vamos fazer um esforço, vai? Eu li em uma entrevista qualquer um entrevistado qualquer falar de um comentário qualquer deste blog, que discutia a velha e fantasmagórica crítica (foi naquele post sobre a entrevista do Montaner na aU, lembram?). Primeiro, vamos ler o comentário no blog que deu origem a confusão:

"Alenca

De todos os textos que o Comas já fez só consegui ler "meio". Aquele sobre Pampulha, em que ele discorre sobre a inspiração de Niemeyer na "Cabana Primitiva" para conceber a "Casa de Baile". Lamentável. A interpretação permite tudo... No fundo, a crítica gaúcha, não deixa de ser um "olhar estrangeiro". Afinal, nada daquilo que eles comentam (Costa, Niemeyer, Reidy, Artigas, Lina e Paulo) não foi construído lá. Realmente, o sentimento de frustração deve ser enorme. A crítica é só uma válvula de escape. Mas também uma maneira de demarcar território.

cricri"

Mas a provocação barata realizada em janeiro de 2008 não ficou sem resposta. No melhor estilo John Wayne, Comas - o gatilho mais rápido do velho oeste - respondeu de bate-pronto, de primeira, um ano depois... na entrevista da aU de janeiro de 2009! Vejam só:

"Para contar algo de pessoal, li em um blog qualquer um comentário escandalizado com a minha comparação da Casa do Baile da Pampulha a uma cabana primitiva, considerada no mínimo absurda. Evidentemente, o comentário indica que o leitor não está familiarizado com a importância da ideia de cabana primitiva na arquitetura a partir do Iluminismo, com a persistência explícita dessa ideia nas formulações de Le Corbusier, com os vínculos entre essa ideia e a valorização da arquitetura vernácula por Lucio Costa, ou, mais concretamente, com o entusiasmo do Iphan, nos anos 40, com a Viagem Philosophica, de Alexandre Rodrigues Ferreira e as belas aquarelas de José Joaquim Freire, entre as quais uma representando a maloca dos índios curutus, e com o livre trânsito de Oscar Niemeyer no Iphan, ele que era o colaborador preferido de Lucio (Costa) e acabava de fazer o Hotel de Ouro Preto".

E agora, bando de ignorantes, entenderam a iluminada relação? Seria como, no melhor estilo Comas, a partir deste post, fazer uma relação do John Wayne com os índios curutus! Entenderam? Vocês precisam estudar mais e serem mais criativos!
Bom, o fato é que a falta de ambiente para a discussão arquitetônica no Brasil é espantosa. Como é que um cara como o Comas fica com isso entalado na garganta? Como é que ele leva um comentário de um blog como esse a sério? Tenho uma suspeita: a solidão intelectual. Creio que ninguém comenta nada do que ele escreve. N-I-N-G-U-É-M. E olha que ele não escreve pouco. Não sei se em tom de piada, se chamando ele de velho ou de prolixo, mas a mocinha que escreveu a abertura disse que se reunisse tudo que ele escreveu " já dariam uma enciclopédia".
E logo ele que além de escrever é um arquiteto de mão cheia. O que? Não lembram de nada que ele fez? Não lembra da galeria de arte ou da reforma no sobrado? E a reforma no mercado? Ora, é só pegar o catálogo da exposição Ainda Moderno? - montada em Paris. Os organizadores da mostra André Correa do Lago e Lauro Cavalcanti, para facilitar a pesquisa, recorreram a "consultores setorias" que fizessem uma lista de projetos locais para compor um panorama da produção recente. E da região sul, o consultor era Comas, que escolheu, entre outras coisas, uma obra-prima de... Comas, ora!

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15 janeiro 2009

Passed Systems

Já viram pai morrer de parto? É difícil, mas acontece. Pelo menos foi o que ocorreu com Jan Kaplicky, principal sócio do Futute Systems. Horas depois de sua mulher - 41 anos mais nova - dar a luz a sua filha, ele morreu ontem à noite em Praga. Kaplicky tinha 71 anos e, ao que parece, foi vítima de um ataque do coração.

Kaplicky atuava em Londres mas nasceu em Praga, de onde mudou-se em 1968. Na Inglaterra, trabalhou com Denys Lasdun, Rogers/Piano (no projeto do Pompidou) e com Foster. Depois, em 1979, fundou o Future Systems com David Nixon. A inglesa Amanda Levete, sua primeira mulher e mãe de Josef, seu primeiro filho, tornou-se sua sócia em 1989. Em Outubro de 2007 ele separou de Amanda e casou-se novamente. Sua segunda esposa chama-se Eliska Fuchsova e é produtora de filmes.

Rest in peace.

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09 janeiro 2009

Novo museu

Em primeira-mão para os leitores do Alencastro: a Unicamp lançou edital para o projeto da nova sede do Museu Exploratório de Ciências. Trata-se de um concurso internacional a ser realizado em duas fases. Na primeira fase serão escolhidos cinco finalistas, e na fase final será definido o vencedor.

O edifício, a ser construído dentro do campus, terá cerca de 5 mil metros quadrados e custo estimado em R$ 10 milhões. O prêmio não é muito convidativo, mais em época de crise... Os finalistas recebem 5 mil na primeira fase e o vencedor leva mais 8 mil reais para casa - fora, lógico, o contrato (o 2° colocado recebe mais 4 mil e o 3°, mais 2 mil reais).

No juri? Figuram, entre outros profissionais, críticos como Silvia Arango, e arquitetos, tais como Paulo Bruna e Hector Vigliecca. As inscrições poderão ser feitas do dia 12 de janeiro a 6 de março.

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08 janeiro 2009

Delighting...

Como antecipou com um ano de antecedência este blog sabichão, já está disponível o primeiro box da coleção completa da lendária revista de arquitetura Arts & Architecture, editada na Califórnia. Seguindo os passos do que fizeram com o Domus (que agora pode ser comprada por volumes), a Tashen dá mais uma prova de competência editorial.

Greg Goldin, crítico de arquitetura do L.A. Times, na resenha que escreveu diz que "esta edição fac-símile do Arts & Architecture foi feita de forma invulgar. Em vez de uma compilação, cada edição foi reimpressa individualmente. Ao folhear, você terá a sensação semelhante a experiência original de encontrar a revista quando chegou por correio de segunda classe (na contra-capa de algumas edições, há etiqueta endereçada ao 'senhor Julius Shulman', como que para provar a autenticidade do reprint)."

O ponto alto da revista foi ter inventado o programa Case Study House - das quais foram construídas 26 - que propunham um novo modelo de casa norte-americana para o pós-guerra. O desafio era construir moradias com boa arquitetura por menos de 10 dólares/pé quadrado. São 10 volumes, mais de 6.000 páginas que contemplam 118 edições, que circularam entre 1945 e 1954. Ou seja, parte do período áureo da publicação, no tempo em que foi dirigida por John Entenza. Está prometida para o ano que vêm outro box, com a reimpressão de 1955 a 1967.

Quanto custa? 700 dólares. Na Amazon está com desconto: por módicos 441 dólares (mais frete) você terá ela em casa. Uma dica: neste caso, vale muito a pena, pois como é uma box, eles cobram o frete como se fosse só um volume. Mas corram: foram produzidos somente 5.000 cópias. Pela minhas contas, somente uns 15 brasileiros devem comprar...

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07 janeiro 2009

Obama e o fim do star systems?

Com a correria de dezembro, não comentei nada sobre este artigo de Nicolai Ouroussoff - crítico do NYT - publicado dia 19 passado. Na calmaria de janeiro, vamos ao assunto. O autor começa com uma bomba: "Quem sabia há um ano que nós estávamos perto do final de uma das épocas mais delirantes da história arquitetônica moderna?". A tese é interessante. Segundo o raciocínio de Ouroussoff, "antes do cataclisma financeiro, a profissão parecia estar no meio de um grande renascimento. Arquitetos como Rem Koolhaas, Zaha Hadid, Frank Gehry, e Jacques Herzog e Pierre de Meuron, antes considerados muito radicais para o mainstream, foram celebrados como grandes figuras culturais".

Mais a frente, o crítico afirma: "mas em algum lugar do caminho a fantasia se transformou de forma errada. Como milhares de encargos de luxuosas torres residenciais, lojas de grife e escritórios corporativos em cidades como Londres, Tóquio e Dubai, projetos socialmente conscientes raramente foram realizados. Habitações públicas, um dos pilares do modernismo do século 20, foram deixados fora da ordem do dia. Também não foram realizadas escolas, hospitais ou infra-estrutura pública".

Comentando os projetos recentes dos arquitetos do star-systems em Nova York (Herzog & de Herzog, Daniel Libeskind, UNStudio, Koolhaas e Foster), ele afirma que "em conjunto estes projetos ameaçaram transformar o skyline da cidade em uma tapeçaria de ganância individual".

Bom, mas onde entra o Barack Obama nesta história? No último trecho do texto, o crítico do NYT diz que seria negativo que alguns edifícios em curso não fossem construídos. E mais: "se a recessão não matar a profissão, ela pode trazer alguns efeitos positivos a longo prazo para a arquitetura norte-americana. O presidente eleito Barack Obama prometeu investir fortemente na infra-estrutura, incluindo escolas, parques, pontes e habitações públicas". E diz que poderia haver um "redirecionamento dos nossos recursos criativos". Ou seja, aproveitando as estrelas em obras de programas mais significativos. E conclui: "esse é o meu sonho".

Mas tal provocação não passou em branco. Dois dias após a publicação surgiu a primeira resposta. Ela foi escrita por Cameron Sinclair e Kate Stohr (fundadores do Architecture for Humanity), que trabalham justamente na área que Ouroussoff quer ver o star-systems atuando. E na longa resposta deles, maior que o texto do NYT, eles escrevem algo como: "não vem não - isso aqui tem dono. Sai fora star-systems, o Obama é nosso".

E ai? O Obama é de quem?

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06 janeiro 2009

"O moderno é uma coisa do século passado"

Mais um: estamos, enfim, entrando na era da globalização da arquitetura. Hoje na Folha, há a notícia de mais um projeto no Brasil que está sendo criado por um arquiteto estrangeiro. Trata-se do novo Istituto Italiano di Cultura em São Paulo, a ser construído na avenida Higienópolis onde era o consulado. Quem é o autor do projeto? Massimiliano Fuksas. No início, quando o consulado mudou de endereço, os italianos pensaram em fazer um concurso. Mas logo em seguida o nome de Fuksas apareceu.

Na net não está disponível a imagem da maquete, que ilustra a matéria do jornal impresso. No modelo se vê que a casa será conservada e Fuksas desenhou um novo pavilhão no 'quintal', entre a construção principal e a edícula. O que chama a atenção são duas estruturas grandes, que ultrapassam um pouco a altura da casa e se assemelham a... sei lá o que! Acho que a dois casulos. Mas vamos escutar o autor: "vou construir com lâminas de madeira submersas na água esverdeada. Vamos erguer tudo isso no mesmo terreno [de um casarão na avenida Higienópolis]. São duas esferas de madeira, que se parecem com dois animais ao mesmo tempo estranhos e domésticos. É muito, muito matérico." Entenderam?

Neste caso, como a obra não é pública, não existirá polêmicas. Pelo menos, é o que espero. Os italianos contratam quem eles quiserem - e é justo que seja um italiano, ora! Além do que, é só um pavilhãozinho - nada comparável a Cidade da Música. Tudo bem, o cara é estranho - um tanto quanto arrogante - e nem Pritzker é. Mas quebra um galho... E lhes informo: a enxurrada de estrangeiros não para por ai. Tem mais gente graúda fazendo projeto no Brasil...

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05 janeiro 2009

O melhor de 2008

Vocês acharam que eu iria esquecer? Nada. Está na hora do tradicional Balanço Alencastro Sobre A Cena Arquitetônica de 2008! Mas, em minha avaliação, o balanço do ano passado ficou muito longo, com 20 tópicos. Como sei que a conhecida preguiça de verão sempre funde a cuca dos leitores deste blog, vamos simplificar diminuindo para 11 os tópicos. No resto, é como no passado: os concorrentos se referem a 2008 (se for uma obra construída, tem que ser publicada em 2008; se for um livro, tem que ser publicado em 2008) etc etc etc. Façam comentários do tipo "1.a; 2.b; etc". Se escolher a resposta "e. Outra(o)", especifique sua escolha. O resultado será divulgado em fevereiro. Faltam alguns links, que coloco em alguns dias. Coragem, vamos lá!

1. Melhor obra construída de 2008:
a. Museu do Pão (Brasil Arquitetura), aU168, março/Projeto 337, março
b. Galeria Adriana Varejão (Rodrigo Lopez), Projeto 340, junho
c. Fundação Iberê Camargo (Álvaro Siza), aU 171, junho/Projeto 341, julho
d. Edifício Harmonia (Tryptyque), aU 174, setembro
e. Outra

2. Maior decepção arquitetônica de 2008:
a. Ampliação do aeroporto Santos Dumont (Planorcon)
b. Apartamentos em Madri (Mendes da Rocha)
c. Novo CEU (Walter Makhohl)
d. Top Towers (Konigsberger Vannucchi)
e. Outra

3. Casa do ano:
a. Carla Joaçaba no RJ - aU166, janeiro
b. Forte, Gimenes & Marcondes Ferraz com a Casa Grelha - aU 172, julho
c. Angelo Bucci em Santa Tereza, RJ - GA House 106
d. Una em Joanópolis, SP- Projeto 343, setembro/ aU 176, novembro
e. Outra

4. Livro do ano:
a. David Libeskind -Luciana Brasil (Romano Guerra)
b. Isay Weinfeld - Raul Barreneche (Bei Editora)
c. Fundação Iberê Camargo - vários (CosacNaify)
d. Bernardes e Jacobsen (Capivara)
e. Outro

5. Melhor abordagem sobre arquitetura na mídia geral:
a. Revista Morar, da Folha
b. piauí (edição de agosto - com o perfil de Julio Neves - e dezembro - sobre a Cidade da Música)
c. Edição Top (edição especial Arquitetura & Construção)
d. Revista Joyce Pascowitch (General Jardim na boca do povinho fashion)
e. Outra

6. Melhor edição de revista especializada de 2007:
a. Projeto 340, junho (galeria Varejão, prédio de Isay, casas de Lawrence Vianna, Herzog em madri)
b. Projeto 341, julho (Siza em Porto Alegre e obras do RS)
c. aU 172, agosto (jovens latino-americanos)
d. aU 175, outubro (Lelé)
e. Outra

7. Frase do ano:
a. "Hoje Marcos Acayaba também superou o mestre Mendes da Rocha", de Hugo Segawa no El País
b. "Apenas um idiota teria dito não", de Herzog sobre o fato de ter desenhado o Ninho do Pássaro para um governo ditatorial
c. "Eu não sou uma marca. Isto é uma marca", de Calatrava enquanto apontou para o seu relógio Patek Philippe
d. "Até os arquitetos, que vivem chorando, pararam de chorar...", de Gilberto Dimenstein sobre o aquecimento da construção civil - pré-crise...
e. Outra

8. Piada do ano:
a. Fotoshop na capa da aU 169
b. O blog do Alencastro ser citado por Segre na aU como exemplo de crítica de arquitetura
c. Guedes se afastar da presidência do IAB para concorrer a vereador
d. O resultado dos três números da revista Nosso Caminho, dirigida por Niemeyer
e. Outros

9. Polêmica do ano:
a. CPI sobre a Cidade da Música
b. Montaner e os críticos brasileiros
c. A capa do livro do Niemeyer publicado pelo Ricardo Ohtake
d. Herzog & de Meuron em SP
e. Outra

10. O fato arquitetônico do ano:
a. O fim da l'Architecture d'Aujourd'hui
b. Morte de Guedes
c. Sejima em São Paulo
d. A crise e as demissões
e. Outro

11. Personagem do ano:
a. Siza
b. Siza
c. Siza
d. Siza
e. Outro

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