13 fevereiro 2007

O novo e o velho

Passou meio desapercebido um comentário que recebi em janeiro (postado no clássico "Como ser um grande arquiteto?"). Agora, o assunto volta a tona no Vitruvius. Trata-se da velha pendenga entre os homens do patrimônio e os arquitetos contemporâneos.

No Vitrúvius, Benedito Tadeu de Oliveira (o mesmo que assina a carta que alguém postou no meu blog), escreveu um artigo em que relata que a praça da Liberdade, em Belo Horizonte, está em perigo. Isso por quê, três edifícios históricos estão prestes a sofrer intervenções. O fato é que as secretarias de governo lá instaladas serão transferidas para o centro administrativo que Niemeyer desenhou para Aécio Neves. Assim, os prédios da praça mudarão de uso: todos serão destinados à cultura. Oliveira sabe o que diz: especialista em patrimônio histórico, ele é Diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em Ouro Preto, MG.

Vejam um trecho do artigo em que ele relata o caso da Secretaria de Estado da Educação:

"A intervenção proposta configura um caso mais grave, pois demonstra a reincidência no erro citado anteriormente. Foi proposto um programa incompatível com as características arquitetônicas da edificação e convidado para desenvolvimento do projeto de intervenção um arquiteto que, apesar de possuir uma rica experiência profissional e de ter sido professor da FAU-USP, não tem preparo e sensibilidade para reconhecer valores intrínsecos dos bens culturais, especialmente os tombados. O projeto, que tem previsão de ser financiado pela Federação das Indústrias de Minas Gerais – Fiemg –, caso seja implementado, causará uma grande mutilação no bem tombado e uma profunda descaracterização no conjunto arquitetônico da Praça da Liberdade."

Agora adivinhem quem é o tal arquiteto? Um jujuba estragada para quem pensou em Paulo Mendes da Rocha. Reproduzo o post para aqueles que não leram e já adianto: concluam o que quiserem...

"Quanto maior o ego, maior é o estrago

Meu professor Renato Bonelli, crítico, historiador da arte e ex-diretor da Escola de Restauro de Monumentos da Universidade de Roma – La Sapienza, dizia que os inimigos mais perigosos do patrimônio cultural são os arquitetos modernos.

O projeto do renomado arquiteto Paulo Mendes da Rocha de reforma da edificação da Secretaria de Educação, situada na Praça da Liberdade de Belo Horizonte, protegida pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais - Iepha, confirma a máxima do conceituado teórico do “restauro crítico” italiano.

Paulo Mendes da Rocha sabe que a arquitetura não é constituída somente de fachadas, mas também de intenções plásticas, espaços internos, volumetria, ornamentos, sistemas construtivos, técnicas e materiais de construção. Como arquiteto, com uma reconhecida trajetória profissional, e sobretudo como ex-professor da FAU/USP, deveria ter se interessado um pouco pela história do restauro e pela teoria moderna de restauração, hoje universalmente reconhecida e aceita, antes de se aventurar na sua nova atividade de intervenção em bens culturais; ou então se espelhado no exemplo do Mestre Lúcio Costa, que revolucionou a arquitetura e o urbanismo no Brasil, sem ter contribuído para a destruição de nossas heranças culturais. Muito pelo contrário; Lúcio Costa, com seu discernimento e sabedoria, tinha tanto cuidado e respeito com o patrimônio histórico e artístico nacional que dizia: Em Ouro Preto menos é mais.

Projeto semelhante também de autoria de Paulo Mendes da Rocha para o Museu Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro foi prontamente rejeitado em 2005 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan.

Cabe agora ao Iepha, um dos mais prestigiados institutos de preservação do patrimônio cultural do País, destombar a edificação para promover a marca do arquiteto moderno e da Fiemg na Praça da Liberdade. E também explicar à sociedade civil e aos Ministérios Públicos Estadual e Federal, o porquê da sua decisão de interromper a transmissão para o futuro dos valores republicanos, que o conjunto arquitetônico da Praça da Liberdade testemunha e representa.

Benedito Tadeu de Oliveira -arquiteto, doutor e diretor do Iphan de Ouro Preto"

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7 Comments:

Anonymous Anônimo said...

"São paulo é um palimpsesto"..."Três cidades em um século"...você sabe - escuta ou lê o tempo todo sobre o desdem que a seita em questão tem pela história da arquitetura e do urbanismo de São Paulo. É explicito e declarado o desejo de confrontar o que existe e remoldar tudo à imagem e semelhança. A pinacoteca deu um salvo-conduto para esse tipo de intervenção-reprimenda, que desmerece o existente para valorizar o proposto (nada declarado explicitamente, claro). O passo seguinte, o trambolho do Patriarca, já foi estupro mais decalrado e até hoje não consentido por boa parte dos arquitetos locais off-brodway. E daí pra frente, é aquela estória: dá um martelo na mão da criança que o mundo inteiro vira prego. Só que a seita esquece que ela é estadual, pra não dizer municipal, pra não dizer vila buarque - a daí é claro que alguém com um certo apreço e respeito pela arquitetura e urbanismo da própria cidade vai soprar o apito. Demorou.

6:08 PM  
Blogger Alencastro said...

O problema, meu caro Alberto, é que os norte-americanos - com aquele prêmio - deram poderes satânicos a seita da Vila Buarque...

11:38 AM  
Anonymous Anônimo said...

(anônimo 1°)


os termos do caro alberto põe em descrédito a crítica. que katssu.

7:44 PM  
Blogger edison hiroyama said...

pode ser caro #1...
mas têm dia quinumsaidireito o que a gente escreve...e vai-que-vai assim mesmo!

'satânicos' Alencastro? rsrsrs
para a patuléia (como diria o grande Elio Gaspari), pode ser...

abraço.

12:10 PM  
Anonymous Anônimo said...

uai... porque?

1:49 PM  
Anonymous Anônimo said...

(anônimo 1°)

agora me vingo.


falta clareza.

4:26 PM  
Anonymous Anônimo said...

hahahaha...boa. Principalmente vindo de você. Gostei.

4:35 PM  

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