Hiperinflação
Leram o Babélia, suplemento cultural do El País no último sábado? Vale prestar atenção no texto A crise do 'star system', de William Curtis. Ele faz um alerta sobre a arquitetura atual que já falamos por aqui. Autor do clássico Modern Architecture Since 1900 (Phaidon), Curtis nasceu na Inglaterra em 1948. Escreveu ainda textos sobre Lasdun, Corbusier e Balikrishna Doshi. Leiam, com a porca tradução do Alencastro, o que ele tem a dizer:
"A arquitetura atual corre o perigo de se degenerar em um jogo que desenvolve-se com formas excessivamente complicadas e imagens geradas por computador, quando desenhistas e clientes atraem a atenção para si mesmos com os chamados edifícios 'icônicos'. Se faz de tudo para conseguir um efeito rápido para seduzir os políticos e gestores com gestos sensacionalistas em sintonia com o marketing, com a privatização, com os interesses fugazes do capitalismo global e com a 'sociedade do espetáculo'. Como é habitual, a arquitetura também se presta para ocultar e idealizar as manobras e artimanhas do poder político e financeiro. Mas os grandiosos projetos resultantes, às vezes não funcionam adequadamente, chocam-se com o contexto e custam uma fortuna em manutenção. Temos agora o jogo 'icônico' em que promotores e arquitetos buscam fazer com que seus projetos super dimensionados criem 'identidade' a esta ou aquela cidade, uma afirmação absurda quando se trata de lugares centenários. A linguagem dos gabinetes estratégicos é usada para comunicar-nos que agora a arquitetura é uma 'marca' para vender uma coisa ou outra no mercado global: vinho, arte, moda, propaganda de ditaduras ou qualquer outra coisa. Neste ambiente de promoção não surpreende que se faça tanto esforço na imagem sedutora e virtual a custa da realidade construída. Muitas operações de construção em grande escala não são mais que pacotes de investimentos internacionais. Trazem poucos indícios de preocupação social ou local; só por que está na moda, limitam-se a fazer algum barulho para demonstrar que se pensa no meio ambiente. Como as imagens efêmeras que se criam na tela de um computador, o projeto arquitetônico corre o risco de ver-se reduzido ao nível das superfícies e dos efeitos fugazes.
O chamado 'efeito Bilbao' é uma faca de dois gumes para a arquitetura. Os prefeitos estão agora submetidos a ilusão ingênua que só podem construir grandes projetos pelas mãos de arquitetos estrelas para garantir o 'prestígio'. Lamentavelmente, no lugar de produzir edifícios funcionais, sólidos e belos, vários membros do star system, alguns deles vencedores do Premio Pritzker (que absurdamente é proclamado como o equivalente ao Nobel da arquitetura) criam desenhos arbitrários e ostensivos sem substância durável: uma arquitetura de gestos vazio e formas complicadas em excesso que não possuem um verdadeiro significado. Se um Pritzker é usado como uma 'marca' que supostamente garante superioridade, a quantidade de sua produção se impõe a qualidade. A arquitetura contemporânea sofre de uma hiperinflação que combina uma deliberação precipitada do desenho, estúdios excessivamente grandes e uma produção automatizada. Há um risco real de que os arquitetos produzam caricaturas de seu próprio trabalho para o 'mercado'. Neste sistema, a arquitetura perde a alma e se vulgariza como uma forma de publicidade. Necessitamos verdadeiramente de mais museus como parques temáticos, aeroportos faraónicos que não funcionam, ou arranha-céus com formas vagamente fálicas? A arquitetura tem objetivos mais sérios a perseguir, que deve servir a sociedade e a cultura a longo prazo, contribuindo de maneira positiva tanto para a cidade como para a natureza."
E ai? A carapuça lhe serviu?
Marcadores: star systems, Willian Curtis
43 Comments:
Este texto parece ter sido escrito por Helio Piñon... A diferença é que o espanhol acrescenta uma pitada de humor em suas idéias. Ele diz, por exemplo, que a arquitetura atual se assemelha a alta gastronomia por ser altamente ornamentada, mascarada, camuflada, enfim, uma ferramenta de marketing.
Mas cá entre nós: existe público para isso, não?
serviu. Só me falta um projeto em Bilbao. ahahah
Bravo!
Quando falei uns "posts" abaixo sobre o risco do Pritzker ser uma espécie de maldição do fulano de tornar-se uma caricatura de si mesmo, você achou exagero, Alencastro.
Mas é isto! Efeito Jack Nicholson....Pra que fazer outra careta se o povo gosta tanto desta?!?!
Lógico que existe, Annima: além do público em geral, os políticos, gestores, os próprios arquitetos e as revistas.
Você já fez um "arranha-céus com formas vagamente fálicas", Guga?
É isso ai, anónimo. Curioso que neste trecho - "Há um risco real de que os arquitetos produzam caricaturas de seu próprio trabalho para o 'mercado'"-, corresponde ao que ocorreu com Niemeyer, na década de 1950, com as obras para o mercado imobiliário de SP que ele renega...
quase. Só faltam os últimos 79 andares.
Se por um lado nosso modernismo evangelista ja esta velho demais mas parece não morrer, essa arquitetura flamboyant européia frustra cada vez mais pela falta de noção da realidade. O que as duas parecem ter em comum é o pseudoarquiblablabla de sempre que estraga até bons projetos..
Por outro lado, caro anônimo, quando nossos modernistas evangelizados lêem essas crítícas ao star systems, devem pensar: "tá vendo, estamos no caminho certo..."
Não, não serviu, ainda não achei os clientes certos.
Alenca querido, tenho a impressão de que você tende mais para esse lado, digamos, progressivo da arquitetura contemporânea desenvolvida no norte.
Particularmente acredito que o atual fenômeno tende a ser mais nocivo do que benéfico. O que existe hoje é a postura de se criar o mais estranho jamais visto ... Por causa de egos deformados de políticos, megaempresários e arquitetos, populações imensas em diferentes gerações serão obrigadas a conviver com aberrações inúteis plantadas no meio da paisagem de suas cidades ...
Claro que a arquitetura deve buscar experimentações (e obras belíssimas foram construídas nos últimos 20 anos) mas o que acontece hoje é ridículo. Vê-se baboseiras sendo criadas mundo afora pelos simples fatos de que 1)cada vez mais as ferramentas de modelagem em computador tornam-se mais simples e 2) arup abre cada vez mais escritórios em diferentes cidades globo afora com o simples proprósito de tornar construíveis essas baboseiras.
Será que não é o caso de mudar de hemisfério, Peri?
É isso ai anônimo. Mas, não sei se eu vou lhe decepcionar, mas concordo plenamente com o Curtis.
Não acredito Alenca!!
Eu tava pronto pra bater boca por aqui.
Deceção nenhuma!
Surpresa é a palavra ...
Acho que vc tem um pezinho na gal. jardim hein! Cuidado que qq hora te pegam por lá hein!
Teste do pezinho na Gal. Jardim? Não, não. Eu fui vacinado...
Ai, quanta baboseira. Por partes:
1."Os prefeitos estão agora submetidos a ilusão ingênua que só podem construir grandes projetos pelas mãos de arquitetos estrelas para garantir o prestígio". AGORA, CARA PÁLIDA?!? Niemeyer faz isso há um século, mas só AGORA é que isso é digno de nota? Ah, comunista pode né...
2."Trazem pouca preocupação social e local" Gehry pôs Bilbao no mundo civilizado, gerando receitas antes impensáveis no setor de turismo - o que se desdobra obvialmente para A SOCIEDADE LOCAL, de empregos a recitas públicas. Bilbao vale por 10 mil supostas "arquitetura com função social" - o que insisto, é pleonasmo ou fraude.
3.Não há dúvida do nível de esquerdismo do cidadão quando ele começa a perguntar "será que precisamos..." A civilização ocidental é marcada justamente pela liberdade de criar não o que alguns auto-determinados demiurgos acham que "deve" ser criado, mas o que quer que se acredite desejável e benéfico em sua época. Errando, evoluímos. O que não quer dizer que não hajam acertos. E muitos.
Ou seja, pior que "star system", é o "totalitarian system" da crítica obscurantista. O primeiro, a própria sociedade se encarrega de avaliar, naturalmente. Já o segundo, além de emburrecedor, é completamente esfarrapado moral e intelectualmente. Basicamente o lixo que se ensina por aí, aliás.
Censurado pela ultima vez, amygo. Adiós.
Oi Alberto. Vou também por partes:
1. Niemeyer é só um: potencincialize seu estrago por mil.
2. O problema, caro Alberto, é achar que o efeito Bilbao vai colar em qualquer Cubatão. Por outro lado, não deixe que sua alergia ao discurso paulista contamine sua percepção de que buscar o bem comum é o ideal que deveria ser perseguido por todos que vivem numa comunidade; isso cabe não só ao arquiteto, mas a qualquer cidadão.
3. Questinar se algo é necessário a vida não é, necessariamente, exclusividade da esquerda. Neste caso, ele só está exercendo seu papel crítico. Veja você, por exemplo: também está questionando a validade dos argumentos dele. O cara expôs uma opinião (o clima de oba-oba do cenário internacional da arquitetura está deixando para trás aspectos importantes em prol de imagens fortes) e você colocou outra. Contudo, acho que não existe só a esquerda e a direita, não é? Mas concordo com você que no meio disso tudo há algum avanço; mas a que preço?
4. Censurado??? Você?? Por aqui, meu caro, tu sempre será bem-vindo.
Peri, meu caro, fique à vontade.
Alencastro, apesar do teor "dodói" do texto do Alberto, acho que ele tem razão em muitas coisas...
Na minha opinião, o Brasil carece de alguém que faça contraposição às idéias de William Curtis abertamente na mídia. O extremismo, neste caso, seria algo saudável: além de aquecer o debate numa escala ampla, melhorando a qualidade da crítica - interferiria na arquitetura nacional que, por mais que discordem, não tem muita projeção internacional. Chega de enaltecer a escola paulista, pelo amor de deus!!
Primeiro, a errata. Vi que você tinha aprovado um lote de comentários posterior ao meu comentário, sem ele. Esse negócio de vetar comentarios antes é meio policialesco, ce sabe o que eu acho. Passou da conta, corta o cara depois - cortando antes, o que você corta é a dinâmica do seu proprio blog. Mas isso, claro, é só palpite de fora, que só me atrevo a dar por sinceramente querer aprimorar a dinâmica aqui. Agora, back to the point.
Ao contrário do seu buddy aí de cima, respeito o direito dele de escrever baboseira (Blogueiro nem precisaria dizer essas coisas, na verdade). Mas me reservo o direito de por pingos em certos "i"s.
Para mim é difícil não enxegar onde a crítica - ou melhor, o crítico - quer chegar, qual a real motivação do texto. Mas vamos lá:
1. O Renzo Piano entra nessa conta? O Centro Cultural de Nova caledônia entra nessa crítica, por exemplo? Deve entrar não? É icônico, hightech e globalizado, não? Certamente é um exemplo de má arquitetura.Pfff...
2. Em um mundo permeado de neoclassicos by Tecnisa, dizer que o problema está na mão dos arquitetos que arriscam novas metodologias e formas chega a ser melancólico. Se esses prédios são niemeyer veze mil, o resto do mundo é "maison acrópolis" vezes dez a vinte três.
3. Quando digo que falar em "papel social da arquitetura" é fraude ou pleonasmo, quero dizer exatamente o que você pensa. É intrinseco a qualquer bom projeto de arquitetura a procura do bem comum. Mas um bom arranha-céu tem função social tanto quanto uma reurbanização de favela - eles dão condições da sociedade desenvolver suas vidas e economias com mais eficiencia e conforto.
4.Bilbao é Cubatão. Mas com uma grande obra de arquitetura. Num mundo em que há que faça turismo em Paranapiacaba...
5.Para mim, finalizando (acordem aí!) o objetivo do texto é criticar a arquitetura que dá dinheiro, ponto. Independente se é boa ou não. O "capetalismo" perverteu o mundo, e a arquitetura não podia ficar de fora. MAs se "boa parte" dos arquitetos fazem isso e aquilo, necessariamente há uma outra parte que não faz, certo?
Bem, não nesse texto. Uma amostragem difusa (ah, desculpe, não tem exemplos) serve à generalizações de como o starsystem é intrensacamente mau, de como o "mercado global" só pensa "naquilo", e de como um exemplos de edifícios "funcionais, sólidos e belos" jamais poderão vir dali.De onde virão? Não importa, a missão da crítica já foi cumprida.E não tem nada a ver coma arquitetura.
You know better than this, my friend.
Cuidado Alberto, olha a hipertensão!
1. Alenca comentou bem comentado ...
2. É claro que o caso de Bilbao trouxe incontáveis benefícios para a sociedade local. O mesmo acontece em todo o lugar onde um amebóide é construído? Vale a pena que políticos do planeta todo saiam desesperadamente contratando projetos apelativos com o intuito de gerar receita com o turismo? Você acha que é uma postura saudável, a ser seguida em escala global?
3. No terceiro ítem e conclusão você se contradiz. Os "auto-determinados demiurgos" de hoje não são os mesmos do star-system? Ou pior, não são especuladores globais que visando lucro ou seus próprios egos e ditam o que "deve e o que não deve" ser feito e as populações que engulam suas vontades?
Ninguém está contra a experimentação e nem está dizendo que não existiram acertos na arquitetura da última década. Não acho também que alguém esteja sendo totalitário ao ponto de enaltecer única e exclusivamente a escola paulista (muito pelo contrário, acho que a discussão passou bem longe disso - e isso vale tb para a Annima).
Estamos apenas "avaliando" o star-system - nada mais "natural" num blog de arquitetura (para usar os seus termos).
Diferentemente do que estão dizendo, a posição do Curtis é minoritária. Lá fora e aqui dentro (me refiro ao blog mesmo)!
A mídia em geral e mesmo alguns afeitos ao nosso tema, aprovam em massa os Bibaos, Puerto Madeiros.....
Agora, a transposição direta do discurso do Curtis como uma legítima defesa à escola paulista é mera especulação e redução do foco.
Caramba, parece que qualquer assunto por aqui tem que se desdobrar em alinhamentos de fileiras prós e contra Niemeyer ou escola paulista.
Principalmente aqueles que são visceralmente contra estas figuras, não se dão conta que são justamente eles comprovam a importancia dos mesmos ao colocá-los sempre como paradigma a ser vencido, superado, suplantado, dizimado ou qualquer que seja o termo.
Mas vamos lá, se é só para olhar para o próprio umbigo, um Museu à la Guggenheim no Rio valeria mais que 10 mil obras sociais?
Estou com o Curtis.
Não é porque uma obra custou milhões, empregou milhares, gera custos de manutenção de centenas e atrai zilhões que ela é boa.
Isto é negócio, não arquitetura!
Concordo com o Alen no comments sobre nossos "modernistas evangelizados" em ler uma crítica dessa e achar que estão no caminho certo. O efeito Bilbao é interessante, mas precisa distinguir aonde é cabível a sua utilização. Sobre a nova arquitetura, eu tento entender essa nova produção, seja do norte ou do sul, como uma tentativa de reinterpretação de formas pré- estabelecidas e não vejo nada de ruim nela, e muitas vezes nada de bom também, só não acho que devemos estacionar no ponto e achar que tudo está correto e seguir essa maneira.
Esse texto de William "J. R." Curtis tem tanto de "apelativo" quanto de "equívoco".
A arquitectura - alguma da "melhor" arquitectura... - sempre foi "icónica". As "propriedades" da arquitectura icónica, ou melhor, a "condição" icónica da arquitectura (mais ou menos...) "gerada" em "barriga electrónica" não é pecado (ou culpa) da "máquina" dos tempos pós-modernos...
Não existe nenhuma relação entre a "quantidade" e a "qualidade" (entre a quantificação e a qualificação - a "beatificação"?...) das "formas". Não existe nenhuma relação entre o "ascetismo" (monástico) das formas e a bondade (do "projecto social") da arquitectura, assim como não existe nenhuma relação entre a "hiperinflação" das "formas" e a "maldade" do... "mercado"...
"Arquitectura de gestos vazios" é o minimalismo Shopping "branco mais branco não há" do "recto-e-líneo" Pawson... são os "desenhos arbitrários, ostensivos e sem substância"... da a-Zaha-rada...
Neste contexto, no contexto "real" (também) do exercício da profissão, perguntar se "necessitamos verdadeiramente de mais museus como parques temáticos, aeroportos faraónicos que não funcionam, ou arranha-céus com formas vagamente fálicas", é tão relevante (tão "útil" - para utilizar uma terminologia mais de acordo com a prosa puritana e moralista de William Curtis), tão útil como perguntar ao Papa da Contra-Reforma (...) se Roma precisa de mais igrejas...
A pobrezinha - coitadinha... - (da tuberculosa) da "arquite(c)tura perde a alma e (ai que se es-vai...) se vulgariza como uma forma de publicidade"?...
Ora... (não digam nada ao FLW nem ao Corbu...) só contaram p'ra você...
Puxa vida...
E eu que queria poder trocar todo esse rescaldo da escola paulista atual por um Koolhass.
Querendo isso e lendo esse blog devo ser o único mesmo.
Tô tão sozinho.
Alen, se ten un e-amil de contacto. Recebi uma noticia interesante sobre o Pritzker e queria te passar. Qualquer coisa envie-me sua direcion no ricrossin@terra.com.br.
Abraços.
Calma, calma, não se anime, Annima: isso leva muito tempo...
Nossa crítica - se é que ela existe -, nasceu nos meios acadêmicos e sempre teve inclinações marxistas. Para uma contraposição a esse pensamento, é necessário espaço para uma postura alternativa. Mas como é que essa crítica vai surgir e se desenvolver se não há esse espaço para ela na mídia? Em reunião de condomínios e em balanços de empresas não dá para fazer crítica de arquitetura. Ou será que o espaço ideal é em um homem-placa?
Oi Alberto: antes, o comentário da errata.
Não seja ansioso: aprovei os comentários na ordem. Às vezes fico sem acessar durante um tempo e a coisa acumula. Mas nunca aprovo um comentário deixando outro para trás; se ocorre, é por que ele não será aprovado. E os critérios para barrar comentários são claros - pelo menos, segundo opiniões alencastrinas:
1. Ofensa ou insulto a terceiros; a mim, podem xingar a vontade. Ou não.
2. Quando a pessoa quer se comunicar e pede que eu não coloque o comentário no ar; isso é o que mais ocorre. Para esta situação - e, perdão, mas já respondendo a um comentário lá em baixo do Ricardo - há também um e-mail: blogdoalencastro@hotmail.com. Mas, na maioria das vezes, não respondo ao e-mail. O que equivale a dizer: para mandar recado, podem continuar usando os comentários mesmo...
3. Por razões inexplicáveis.
Agora quanto a dinâmica do blog, vou dizer o que me ocorre. Só quem sabe se há algo esperando por aprovação nos comentários é quem escreveu: para os outros bilhões de leitores, não muda nada...
Agora, aos fatos, Alberto:
1. Acho que o Piano entra com alguns projetos sim. Com essa euforia generalizada, até os mais contidos, são estimulados a cometer para não ficarem fora da mídia e perderem clientes;
2. Sim. Mas estamos discutindo os rumos da vanguarda. Como diria o escritor Danilo Kis, "quem acerta o alvo, erra o resto..."
3. Concordo.
4. Não sei se você já foi a Bilbao, por isso vou lhe dar meu testemunho: é a coisa mais deprimente do planeta. A única joça que presta é o Guggenheim. Os outros prédios do star systems pós-Gehry são um desastre. Legorreta, Isozaki, Calatrava etc: é tudo torta na cara. Fora o eixo das margens do Oja, a cidade é da mesma forma horrível. Depois de gastar um dinheiro razoável para chegar nos fundilhos da Espanha, o pobre mortal se pergunta: "o que é que eu estou fazendo aqui? Poderia estar numa vilazinha aprazível de Rioja, tomando vinho da barrica...". Ou seja, dá uma impressão de que se acaba se cair no conto do star systems...
5. Discordo. Não acho que o objetivo é criticar a arquitetura que dá dinheiro. Mesmo por quê, fora o Foster, nenhum arquiteto do star systems está na lista dos mais bem sucedidos do planeta. O objetivo, a meu ver, é criticar a busca por formas inusitadas para sobreviver num mundo novidadeiro. Tipo por uma melancia no pescoço - sem nenhum insinuação arquitetônica...
Por fim, como não tem exemplos? Nas entrelinhas, ele está se referindo ao Foster (arranha céu fálico), ao Gehry (Guggenheim e vinícula), ao Rogers (aeroporto) etc, a todos que trabalham na China e a aquele Pritzker que a carapuça servir.
Anônimo, sobre Bilbao, leia resposta acima. O Guggenheim foi bom para Bilbao; para aqueles trouxas que vão lá, ainda é uma cidadezinha...
No mais, é isso ai: blog é para isso mesmo
É isso ai, anónimo. No mais, por aqui não há nada de novo; por isso, batemos (ou socamos...) na mesma tecla de sempre.
Contudo, deixa eu lhe dar uma informação: há um tempo atrás, fiz a marcação de todos os posts do blog (quando eu comecei, não havia ainda indexador). Deu um trabalho danado - mas auxilia a busca sobre assuntos correlatos. O número de entrada é uma espécie de 'índice alencastro'. Tudo bem que os campeões são o Nini (49, mas 23 comentários relacionados ao centenário) e o Paulinho (37). Mas temos outro assunto? Sim, temos!
Depois vem o Gehry (19), star systems (15), o Wisnik (14), lançamento de livros (14), Ruy (11), adivinhações (11), Alencastro (11), Zaha (10), aU (9), Herzog (9), Folha (9), obituários (9), Domus (8), Piano (7), Koolhaas (7), Biselli (7), Rogers (7), Sejima (6), Brasil Arquitetura (6), piauí (6),Cosac (6), Isay (6), Serpentine (6), Artigas (5), China (5), concursos (5) etc...
Fora esses, há mais de 1500 (isso mesmo, mil e quinhentos) verbetes citados, a maior parte com um post. Em 320 posts, creio que os assuntos aqui são bem diversificados.
Falando em estacionar, Ricardo, o Brasil, neste ponto, é um grande estacionamento.
António: a boa arquitetura sempre foi icônico? Que coisa estranha, não? Só é icônica a arquitetura relacionada a poder, meu caro. Da igreja, dos políticos, das incorporações, dos museus etc. Mas as coisas são cíclicas: daqui a pouco - quando acabar o dinheiro - a poeira abaixa naturalmente.
Eu também troco, anônimo! O problema é se eles vão querer trocar com a gente...
Você viram: 1h30 respondendo aos comentários desta bateria! Moral da história - " em época de vacas gordas, não crie um blog..."
"Coisa estranha", Alencastre?
Não. A coisa não tem nada de estranho. Religião, Arte, Política... precisamente!
A arquitectura sempre esteve relacionada com o o poder. Precisa dar exemplos?
1. Entendo o que "am" quis dizer, acho que arquitetura torna-se icônica por uma série de fatores, nem sempre planejados.
Mas é da natureza do modernismo (talvez o termo aqui seria modernidade, mas evito)tentar "resetar" continuamente os arquétipos constituidos. Acho que isso acaba se confundindo com um certo maneirismo, de buscar o icone pelo icone, mas a vezes só faltou lerem o projeto com calma.
2. Claro, existem os maus exemplos - e Legorreta(fazendo prédios), Isozaki e Calaltrava (fazendo qualquer coisa) são sempre torta na cara - mas vejo todo mundo sair xingando a maioria dos projetos do star system sem ao menos lê-los.
Isso é deduzir que reiteradamente um conselho de pessoas enfiam um bilhão de reais numa porcaria de projeto só porque sai bem em foto. Senhores, vou chocá-los: nem todo mundo é um prefeito do interior. O nivel de exigência dessas pessoas, sinceramente, é maior que o de todos nós juntos.
3.Bom, como disse, Bilbao é Cubatão, e não é um prédio, dois ou três que vão resolver o problema. Mas por isso mesmo, UM bom projeto já é melhor que nada. Plain simple like that.
4. Acho que quando se critica genericamente a arquitetura do starsystem, não se está criticando arquitetura, está se criticando uma verba. Com bastante preconceito. Edifícios vagamente fálicos? hmm, isso inclui, tipo... todos?
Alberto, para não estender essa conversa, acho que o Curtis lê sim a arquitetura que ele está comentando. E lê com cuidado. Esse é o trabalho dele, não é um comentário de bar. Eu temo por você: será que esta mesma crítica que você está fazendo - de que as pessoas não lêem os projetos, tem um conceito pré-estabelecido - você também pode estar cometendo ao já estabelecer aonde o Curtis quer chegar? Você defende o melhor do star systems atacando uma crítica genérica. Há algo de bom nisso tudo, acho que disto nem o Curtis duvida; o problema é o todo, o trabalho em série do primeiro escalão, a pressão no segundo, a concorrência pelo novo ícone de cada segunda-feira. Ninguém consegue, isso não vai acabar bem. Como disse outro dia o Felix Claus em entrevista ao El País - no 4° post que fiz!!!: "O problema da arquitetura atual é que existem muitos arquitetos tentando criar coisas que se consegue uma vez na vida. Nem se quer Jean Nouvel pode criar um edifício único a cada dez ou doze anos. Isso significa que o mundo está sendo levado na brincadeira. Hoje em dia as revistas de arquitetura deveriam trazer um aviso do tipo: 'Advertência: não tentem fazer isso em casa'".
Caro Alberto
Eu compreendo, aceito, e, digamos assim, também procuro praticar à critica ao starsystem, mas não concordo - não posso concordar - com um crítica ao tal do starsystem que "assenta baterias" na "hiperinflação" da "forma", nem uma crítica ao starsystem "por atacado" (não sei se utilizam esta expressão por aí...) que confunde os relevantes contributos (para a arquitectura) por exemplo, do Frank Gehry, com outras arquitecturas mais da moda...
Starsystem é Frank Gehry, é Siza, é Tadao Ando e é (depois do Pritzker) Paulo Mendes da Rocha...
A confusão entre o "sentido" da obra de todos esses diferentes arquitectos "planetários" (ou "galacticos", como os jogadores de futebol do Real Madrid...) é completamente absurda!
Ok,vamos fazer o seguinte: comento no post acima.
Falou tudo (no post das 7:53).
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