Arquitetura verde
A sustentabilidade é um problema dos ricos?
É um problema dos maus arquitetos. Os maus arquitetos se organizam sempre com temas secundários. Dizem coisas do tipo: a arquitetura é sociologia, é linguagem, semântica, semiótica. Inventam a arquitetura inteligente - como se o Partenon fosse estúpido- e agora, a última invenção é a arquitetura sustentável. Tudo isso são complexos de má arquitetura. A arquitetura não tem que ser sustentável. A arquitetura, para ser boa, está implícito ser sustentável. Nunca pode haver uma boa arquitetura estúpida. Um edifício em cujo interior as pessoas morrem de calor, por mais elegante que seja, será um fracasso. A preocupação pela sustentabilidade revela mediocridade. Não se pode aplaudir um edifício porque seja sustentável. Seria como aplaudi-lo porque se aguenta.
Considerações de Eduardo Souto Moura, em entrevista ao El País.
É um problema dos maus arquitetos. Os maus arquitetos se organizam sempre com temas secundários. Dizem coisas do tipo: a arquitetura é sociologia, é linguagem, semântica, semiótica. Inventam a arquitetura inteligente - como se o Partenon fosse estúpido- e agora, a última invenção é a arquitetura sustentável. Tudo isso são complexos de má arquitetura. A arquitetura não tem que ser sustentável. A arquitetura, para ser boa, está implícito ser sustentável. Nunca pode haver uma boa arquitetura estúpida. Um edifício em cujo interior as pessoas morrem de calor, por mais elegante que seja, será um fracasso. A preocupação pela sustentabilidade revela mediocridade. Não se pode aplaudir um edifício porque seja sustentável. Seria como aplaudi-lo porque se aguenta.
Considerações de Eduardo Souto Moura, em entrevista ao El País.
Marcadores: Eduardo Souto Moura, El País, sustentabilidade
17 Comments:
Isso é meio óbvio, né, mas o próprio frenesi causado pela banda ultra-verde de querer criar um nicho de mercado exclusivo (como se sutentabilidade fosse fazer telhado de PET ou parede de solo-cimento) é que é responsável por esconder esse óbvio. E claro, sempre tem um fator cultural chamado cliente, que em última instância, acha que projeto de conforto ambiental é setinha pra boi dormir, mete logo um ar condicionado aí rapaz. Experiência própria. Pelo menos eles concordam que tem que se aguentar.
Ah, esqueci: esses prédios-fazenda da ilustração do post, projetados pra china não tem nada a ver com sustentabilidade. É só uma proposta pra tentar minimizar o impacto do êxodo rural na economia do país. O cara chega n cidade e o emprego dele foi junto. A conferir a experiência.
Até que enfim alguém disse isso. Esse negócio já estava cansando um pouco. Afinal uma gestão coerente dos recursos não está atrelada a uma boa arquitetura? Chega do Neo-Cyber-Terrorismo-Verde, sejamos simplesmente coerentes com nossa escassez.zdhmn
Não sei não. O que importa afinal é a arquitetura boa. E se para isso é necessário uma pesquisa mais avançada nessa ou aquela área, condizente às necssidades da época em questão, sejam nomeados de sustentabilidade a sociologia, vale. Sempre vale.
concordo que isso esta virando picaretagem e que toda boa arquitetura tem que ser minimamente sustentavel, mas alguem sabe quantos Kwh por metro quadrado se gasta no museu de niteroi, ou na FAU, ou no MASP? Sera que nao vale a pena celebrar os que alem de corretos pelos valores da tradicao arquitetonica nao sao corretos tambem pelos valores da sustentailidade?
É por isso que não tenho mestres!
Eduardo Souto Moura é um dos arquitetos que mais me agradam. Obra e discurso.
Aqui escolhe o alvo, mas erra a mira (algo como um exímio caçador que atira na raposa, mas escolhe o rabo como foco!).
É incrível, para não dizer lamentável, a incapacidade dos arquitetos de serem bom teóricos.
É patente nossa incapacidade de reflexão baseada em conhecimentos históricos, técnicos, culturais etc de forma ordenada, em perspectiva e relacionadas ao tempo.
Nossos discursos tem a profundidade de videoclipe!
Imagens, frases, conceitos pulam pra lá e pra cá! Sem grilos!
Voltando ao assunto, o Alencastro acerta na escolha dos temas. Nós erramos nos desdobramentos.
Pra mim, Souto Moura erra na argumentação.
O fato do grande público, dos clientes, da mídia e dos ditos maus arquitetos dar um peso excessivo, distorcido ou deslumbrado a determinado tema não desabona o tema em si.
A sustentabilidade é um conceito muito mais amplo que o das rodas de arquitetura.
Negar que é uma preocupação que andou anos, anos descolada dos "partidos" dos mais variados projetos (arquitetura, design, indústria etc) é leviano.
Negar que tem gente que nunca deixou de se preocupar com isto ou que se preocupa há muito mais tempo é injusto.
Ora, boa arquitetura é arquitetura sustentável HOJE, senão, sejamos francos, quantas páginas de livros e revistas teriam que ser arrancadas?
Quantos projetos de grandes arquitetos (inclusive que hoje podem ser associados a esta preocupação) teriam que ser subtraidos do rol dos eleitos como boa arquitetura?
Sob esta análise superficial, Mies teria tantos projetos ruins, não?
Mas hoje, e não na época, há tecnologia para transformar aquelas imensas fachadas envidraçadas em brises/fonte de energia fotovoltáica, há novos sistemas de ar-condicionado, iluminação artificial, controle automatzado de utilização, consumo etc.
Ah, que alívio! É até capaz de algum arquiteto após ver um retrofit em alguma grande obra sua dizer: não falei que estas preocupações sempre estiveram latentes em meu projeto?
O Anódino, tirando a parte que se encarrega de ser ombudsman, e não comentarista, tem razão numa coisa: a régua da "sustentabilidade", tenha ou não esse nome, move-se constantemente, de acordo com a tecnologia disponível. Se Mies hoje pode ser taxado de anti-ecológico, na época, vinha normalmente empacotado no grupo do modernismo engajado em conforto térmico de Le Corbusier e afins. O exemplo mais próximo e bem acabado é Rino Levi. AGORA, mesmo que o conceito de Kwh/m2 seja recente, a FAU sempre foi, desde sua inauguração, um lixo de prédio em relação ao conforto térmico (sina que acompanha o brutalismo paulista praticamente até hoje, com poucas excessões que confirmam a regra) e que nem mesmo com muita energia você corrige. Mas sempre foi taxada de boa arquitetura. No critério do Moura, não teria sido nunca.
Anódino de novo?
O resto dos leitores já deve estar saturado da nossa presença.
Voltando ao tema do blogueiro, tem certeza desta filiação/engajamento a que se referiu, Alberto? Não sou um estudioso, mas nunca ouvi falar nela.
Quanto ao brutalismo (nosso ou de outros) vc tem razão. Não são confortáveis. Em verdade, pensei na mesma coisa!
Por outro lado, duvido que o Souto Moura sustente uma análise curta frente a obras ou arquitetos que ele considere "capitais" para a arquitetura ou sua própria formação!
Reduzir a questão da sustentabilidade a mera apreciação do conforto térmico é bastante impreciso. Da mesma forma como é irritante ver, como vc bem citou, uma casa que só porque usa uma empeninha em solo cimento ser chamada de sustentável.
O que tentei dizer é que as coisas deveriam ser avaliadas e valorizadas dentro dos contextos em que foram produzidas.
Só não gosto desta história de ficar tomando um exemplo muito específico (como o da FAU), pois há riscos embutidos no fechamento do foco das discussões.
Seria como, me perdõe o vício de pegar exemplos superficiais de outras áreas (algo que confirma minha crítica aos arquitetos!!!), tomar o manifesto de uma determinada corrente artística e analisá-lo somente sob a ótica de hoje, evidentemente alterada pelo passar dos anos e pelo conhecimento em perspectiva do caldo em que se encontravam as circunstâncias, pelo maior ou menor apreço aos seus autores.
A questão é não fingir que há imutabilidade nos conceitos, nos pressupostos, nas necessidades, ilusões etc. Que não há uma alteração permanente ao peso dos fatores que compoem um grande projeto. A impressão que o Souto Moura deixou é esta!
Senão, como poderíamos avaliar a importância de uma pirâmide hoje em dia?
Pra terminar de vez de falar bobagem, acho que a FAU e outros monumentos da dita escola brutalista paulista teria, sim, conserto em suas criticadas insuficiências de conforto.
Há recursos técnicos para isto.
Não sei haveria coragem de proposta e de acolhimento ao desafio!
Para terminar de ser chato, mesmo que isto tudo se concretizasse e a FAU ficasse "confortável", que produzisse a maior parte de sua energia, que tratasse e reutilizasse a maior parte dos seus resíduos, ainda assim carregaria algumas cicatrizes na pele sensível da sustentabilidade:
Como justificar pra alguém os milhares de m³ de madeira das formas e escoramento da época da construção?
Preocupação com conforto ambiental, economia de energia, água etc é algo que existe faz tempo em contrução.
Preocupação com controle da equação de produçãoxconsumo de energia, água e outros recursos naturais em todo o processo desde a produção dos insumos, execução da obra, funcionamento e vida útil do edifício, reutilização de elementos e descarte de resíduos construtivos é mais novo e bem diferente.
não me parece que o souto de moura esteja errado na apreciação quanto à febre sustentável que existe atualmente.a história já nos ensina há algum tempo o que é arquitetura sustentável (é obrigatório conhecer arquitetura árabe em um dia de 50º), no entanto agora veio à tona o tema como um motivo para fazer mexer o mercado. especialistas inundam a imprensa e a doença alastra, não como algo sério e necessário mas como um fetiche, tal como aconteceu com o "moderno" e principalmente com o "historicismo pós-moderno".
cai-se em situações deste tipo "ah que bom vou ajudar a amazonia comprando este tampo de privada de 2000 reais em madeira certificada".
é bom que o souto de moura contorne determinadas questões, porque se o projeto é muito bonito (e eu acho bastante, certamente também preencherá o quesito tectónica do alencastro), não ajuda nada o mundo se tem de se fazer mais uma estrada para chegar lá. e esta questão no norte de portugal diz respeito a sustentabilidade (ao tema sério e também à semiótica, sociologia e mais um monte de coisas chatas que nada têm a ver com arquitectura). gosto muito da obra do souto de moura, mas prefiro evitar o discurso. já se souberem de uma conferencia do gandelsonas ou do frascari em sao paulo eu não me importaria nada de ser informado.
L.R.
Ok, uma hora a gente acerta a linguagem, mas acho que temos a mesma visão nesse ponto.
De fato concordo que estamos discutindo para cehgar em um ponto que a discussão já está. Desde sempre economia é critério para um boa arquitetura. Antes era apenas uma questão de economizar dinheiro (na contrução e na manutenção) agora é uma questão de economizar recursos naturais e emissão de residuos. Mas, é ainda a velha lógica economica aplicada ao projeto (e claro, nós sabemos não confundir economia com pão-durismo). Essa é uam coisa.
A outra é sobre a análise crítica das obras. A questão do conforto na arquitetura está colocada desde seu instinto inicial do homem, não? O primeiro abrigo já é uma busca de conforto, além da segurança. Seis mil anos depois, alguns "abrigos" são "projetados" com menos conforto que uma cabana pré-histórica. Quero dizer que a questão do conforto estava colocada antes de "conforto ambiental" virar uma ciência aplicável à arquitetura. Então é difícil não citar a FAU. E se fazemos uma análise hoje, podemos fazer uma analise crítica do que se já fazia e se sabai na época. é diferente de querer olhar fora do contexto.
E não esquenta com o apelido. é só provocação pela sua fobia a críticas aos "patrimîonios nacionais".
Invitovos o meu novo blog de arquitectura...non moi sostible no urbanismo en Espanha...
http://pequeisa.blogspot.com/
ok, Alberto. Sou compreensivo com suas provocações, mas deixe-me solicitar uma correção.
Não tenho fobia a críticas. Tampouco pretendo ser defensor de fulano, beltrano ou sicrano.
O que me deixa insatisfeito é a crítica pessoal e por vezes inconsistente não só contra alguns destes "patrimônios", mas a qualquer um.
Uma coisa é criticar uma obra, uma idéia outra é simplesmente desmerecer seu autor.
já disse que não tenho mestres e- no caso dos dois exemplos abaixo, sequer um livro!:
se Niemeyer não tem feito grandes (bons) projetos, não significa que seja um velho idiota!
PMR diz muitíssimas coisas com as quais não concordo, mas não é um cretino.
Você, em muitas horas, parece um pouco intolerante e até um "tiquinho' ambicioso, mas também merece respeito. De verdade. Na boa.
O Kant tem uma frase na qual diz, se não me falha a memória, mais ou menos assim: A sabedoria só se alcança com o tempo. Assim não existe nada de mais odioso que um jovem pretensioso e nada de mais desprezível que um velho janota!
A lembrança desta frase por vezes me serve de rédea, por outras de mola para evolução.
Abraço.
Que seja. Não discordo nem que sou intolerante, nem que sou ambicioso. Mas não tolero escroques, sejam eles bons arquitetos ou não. Já disse várias vezes que a obra de Niemeyer é muito superior ao próprio, um stalinista convicto, apoiado e apoiador dos regimes políticos mais macabros da história. Fosse ele um nazista até hoje (como Heidegger foi até o fim da vida) queria ver essa benevolência toda.
Então - e acredito que com o tempo vocês vão acreditar ou constatar isso - é com muita sinceridade que digo que admiro o prédio mas continuo achando o arquiteto um canalha. Poderíamos nunca citar o arquiteto nas discussões, só a arquitetura, mas seria uma discussão fantasiosa, e não tenho vocação pra censura, muito menos à mim mesmo. Assumo a responsabilidade do que eu falo e faço sempre, e por isso detesto que me censurem.
Quanto a ser ambicioso, bem, descanse, não pretendo fazer carreira nas costas de ninguém. É só pesquisar um pouco pra saber que não preciso disso. Mas esse ranço de que não se pode criticar ninguém até que seja tão famoso ou bem sucedido quanto é ridículo. Se ninguém dá nome aos bois, por medo, dou eu. E se me censurarem aqui, ou ali, paciência. A minha consciência, pelo menos, estará limpa.
eu adoro o portuga, ele falou e disse, concordo com ele.
alen, saí de férias, voltei, pelo visto vc tbem tá de férias, né?
aproveite e tire pelo menos um dia para nao pensar em arquitetura, dica de sucesso.
Bueno, creio que, como disse o Alberto, "estamos discutindo para chegar em um ponto que a discussão já está." Ao mesmo tempo que a susutentabilidade tem um caráter conjuntural regional (diria, inclusive, territorial), ela precisa ter um caráter negativo. Precisamos lidar com a relaidade posta da arquitetura e da discussão "verde", porém não precisamos puramente negá-la porque ela é monológica ou parcial. Do meu ponto de vista, o que seria sensato fazer é pegar o que cada arquiteto ou pensador tem de bom (juntamente com o que ele tem de pior para não ser repetido ou ao menos servir de "ilustração") e compor com a realidade, criando sobre o existente, sem esquecer da crítica da arquitetura embasada na crítica da sociedade, pois é a ela que a arquitetura serve e a ela que a arquitetura contribui para mudar ou permanecer como está. A arquitetura, em seu caráter artístico, técnico e social, tem potencialidade para contribuir na mudança social para a sustentabilidade, para a coletivização dos processos de auto-produção e para a redução de "falsas necessidades criadas" pela "indústria cultural" (Adorno & Horkheimer). O caráter negativo e´determinado, negativo das "relações sociais governadas pela relações de capital"(Marx), e de suas consequências no ambiente, na cultura, psicológicas, etc. Como se diria no México "ser libre no es fácil", assim como não se ter mestres...
Me visitem: http://ouivodocaracol.blogspot.com/
Muito legal toda essa teoria... O que realmente vale, e o que o mundo realmente esta precisando é de pessoas que metam a mão na massa, deixem de discussões, debates... arregassem as mangas e façam a sua parte. Insiram em cada projeto que vocês fizerem daqui pra frente uma estratégia sustentável. Todas essas pessoas que vocês mencionaram (Mies, Corbu...)em algum momento se ligaram que precisavam fazer a diferença e é por esta diferença que encontraram seu lugar nos livros de história. Vocês concordem ou não, mas essas pessoas fizeram uma revolução em sua época. imagine o que pode ser feito com a toda esta tecnologia a nossa disposição! Sejam criativos e botem essas cabeças inteligentes a produzir um novo mundo, baseado em técnologias sustentáveis, novas. Transgridam, deixem o academicismo de lado, vamos ao encontro das soluções. Não temos mais tempo para ficar ao redor de mesas, bate-papos, temos que fazer a coisa fluir. entrem nessa meus amigos. O mundo esta um caos! Façamos com que a arquitetura seja o grande estopim dessas mudanças; mudanças essas que faram com que possamos ficar um pouco mais nesse linda nave (Planeta Terra).Um abraço a todos. E que Deus guie seus pensamentos.
Boa!!!
Chega de papo...
Mãos a obra!!
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