29 setembro 2006

O que é isso, companheiro?

Os verbetes relacionados a arquitetura da recém-lançada Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe, um calhamaço de quase 1500 páginas (e que custa 190,00 reais!) e já conhecido como "Enciclopédia de Esquerda", foram realizados por Roberto Segre - um entre os 123 autores.

Editada pela Boitempo, o volume foi organizado por Emir Sader. Segre foi generoso com o pais que lhe adotou: o Brasil é o que mais verbetes nesta área possui, com três arquitetos (Niemeyer, Lucio Costa e Artigas) e Brasília. Em seguida, vem a Argentina (Claudio Caveri e Clorindo Testa) e a Venezuela (Vilanueva e Fruto Vivas), com dois verbetes cada.

Por fim, o Chile (Fernando Castillo Velasco), o Uruguai (Eladio Dieste), o México (Carlos González Lobo), Cuba (Fernando Salina) e a Colômbia (Rogelio Salmona) que estão na lanterna da 'arquitetura de esquerda' da América Latina, com uma entrada cada.

No entanto, do Lélé, ninguém viu nem sinal. Entre as opções uspianas, só o Artigas. Nem Sérgio Ferro, nem Paulo Mendes da Rocha.

Durmam com essa: é a parte que te cabe deste latifúndio.

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28 setembro 2006

Um grande negócio

A lei que proíbe a mídia externa na cidade de São Paulo, aprovada (com facilidade, não?) na terça-feira passada, está sendo comemorada por todos aqueles que lutam por uma cidade mais limpa - entre eles, grande parte dos arquitetos.

Na Folha de hoje, diversos arquitetos aprovam a iniciativa do prefeito: "Vamos sentir um alívio, porque há uma carga muito violenta hoje de poluição visual", disse José Eduardo Tibiriçá. "A aparência da cidade tem que ser dada pela própria arquitetura e não pela publicidade," colocou Nestor Goulart. A reportagem ouviu ainda Marcelo Ferraz e Carlos Lemos.

Ontem, na mesma Folha, Lucio Gomes Machado assinou um artigo (só disponível para assinantes do jornal ou do UOL) também louvando o fato.

"... de imediato, veremos valorizado um admirável patrimônio arquitetônico preservado a duras penas, muitas vezes em confronto com os mesmos interessados em desmerecer o público para valorizar o privado", relata o arquiteto, professor da FAU/USP, vice-presidente do IAB/SP e ex-curador da Bienal de Arquitetura de São Paulo.

Gomes Machado, não sei se intencionalmente ou não, coloca o dedo na ferida: "O Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento de São Paulo, tem defendido, ao longo de sua história, a necessidade de elevação dos padrões dos projetos e das obras públicas. Para o mobiliário urbano, defende a organização de concurso para a escolha dos projetos que deverão passar à propriedade do município"

E é ai que está o nó da questão: acabando com a mídia externa, abre-se (a inocência deve achar que por acaso) um grande mercado de exploração da publicidade no mobiliário urbano, a ser criado. Coisa de milhões de dólares. O prefeito disse ontem, no Estadão, que vai rever estes anúncios, mas está claro que haverá uma supervalorização destes espaços.

Não tenho bola de cristal, mas anotem: em breve, haverá concorrência para escolher as empresas - todas multinacionais - que irão lotear a cidade em duas ou três partes para explorar este mercado. De forma legal e milionária.

Certamente a cidade ficará melhor, isso não discuto. Mas a nova lei não revela interesses vultuosos, encobertos pela virtude de lutar por uma cidade mais limpa e civilizada.

Quanto ao concurso para escolher um novo projeto de mobiliário urbano? Esqueçam: as empresas já tem seus produtos, que estão em Nova York, Londres, Rio de Janeiro...

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27 setembro 2006

Alan Fletcher (1931-2006)

Vítima de câncer, morreu dia 21 de setembro, em East Sussex, Inglaterra, o designer Alan Fletcher, um dos mais influentes artistas gráficos britânicos.

Nascido no Quênia em uma família britânica, ele foi criado em Londres desde os cinco anos de idade e estudou no Royal College Arte e em Yale com Paul Rand e Josef Albers. Nos anos de 1960 e 1970, ele dirigiu os escritórios Fletcher/Forbes/Gill e Pentagram tendo como clientes a Olivetti, a Reuters, o Lloyds e o Victoria and Albert Museum (ele é o autor do famoso logotipo!), entre outros.

Em 1995 ele tornou-se o responsável pelo design das publicações da Phaidon, criado, entre outros os livros The Art Book e The Garden Book.

Um de seus últimos trabalhos, foi a identidade visual do Campus da Novartis, em Basel, Suíça, iniciado em 2003.

Em novembro próximo, a Phaidon lançará o livro Alan Fletcher: Picturing & Poeting. Recentemente, ele havia doado seu acervo ao Design Museum de Londres, que apresentará, de 11 de novembro a 18 de fevereiro, a primeira exposição retrospectiva de seu trabalho.

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"Acredite, se quiser"

O rapaz, candidato a deputado estadual no Rio de Janeiro, é bisneto do homem.

Não vou comentar nada...

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26 setembro 2006

O futuro das revistas de arquitetura

Qual será o futuro das revistas de arquitetura? Ao que parece, o modelo tradicional das publicações da área - consagrado por exemplos como a L'architecture d'aujourd'hui e a Domus (e que se pautam - e brigam!- por projetos recentes com plantas, fotos e texto, mais noticiários e artigos) - está em cheque.

Novos periódicos surgidos nos últimos anos, tais como a norteamericana Metropolis e a inglesa Icon (cuja capa mais recente ilustra o post) possuem tipos de abordagem distintos. O início desta mudança foi a criação da Wallpaper, revista de comportamento inglesa, que mistura arquitetura, design, viagem e moda. Isso sem falar da já desaparecida Nest - uma doideira total!

Nesta caçamba ainda tem a Internet - com sites, blogs etc - que poderá, nas próximas gerações, diminuir a força da mídia impressa.

Em contrapartida, enquanto as revistas tradicionais se movimentam, outras, surgidas nos últimos 15 anos - como as espanholas 2G, AV e El Croquis - mantém firme um foco de resistência do modelo tradicional.

Se os periódicos podem ser acusados de potencializar o desejo pela novidade que caracteriza a arquitetura atual, serão eles também engolidos por esta fome de notícia?

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25 setembro 2006

O Blog do Alencastro e a mídia

1. O Blog do Alencastro deu a notícia da morte de Vico Magistretti dois dias antes do NYT!!!

2. Saiu uma nota sobre o Blog do Alencastro no Vitrúvius.

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Um moderno entre os romanos

"Para seus admiradores, Richard Meier é o arquiteto vivo com o mais consistente portifólio; para seus detratores, ele o é o mais repetitivo". Era isso o que dizia Steve Rose em sua matéria sobre o Ara Pacis Museum, publicada no The Guardian de 1° maio.

Agora, o aguardado e polêmico projeto construído as margens do rio Tiber em Roma - a primeira obra moderna neste contexto desde Mussolini - é alvo de Nicolai Ouroussoff em sua texto de hoje no NYT.

Em relação a sua inserção urbana, o poderoso crítico do Times não gostou do que viu:

"O edifício de Meier é a expressão contemporânea do que pode acontecer quando o fetiche de um arquiteto é seu próprio estilo e não existe um senso de engrandecimento. Absurdamente fora de escala, o prédio parece indiferente a beleza nua da densa e rica textura do entorno."

Quanto a face interna, que abriga um altar com dois mil anos, ele foi mais tolerante:

"A melhor parte do edifício está no interior, em relação a cuidadosa aproximação ao altar. Logo após a entrada, por exemplo, uma grande abertura permite a entrada da luz por baixo da parede deixando o visitante, em poucos segundos, fora do mundo exterior. Em seguida, somos conduzidos ao altar, que é banhado de luz natural."

Moral da história: se nem os críticos americanos gostaram do trabalho de Meier o que dirão agora os europeus?

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22 setembro 2006

Desaparece o criador do "El Pilar"

A notícia chegou pela Summa+, n°82. Morreu no mês passado o arquiteto uruguaio Luis Garcia-Pardo, aos 96 anos.

Nascido em Montevidéu em 1910, ele era considerado um dos grandes arquitetos de seu país. Entre seus projetos no Uruguai, estão os edifícios El Pilar e Positano, ambos com a participação de Sommer Smith e o segundo com jardins de Burle Marx. A revista uruguaia Elarqa publicou uma monografia sobre seu trabalho (que ilustra o post).

Garcia Pardo morou no Brasil entre 1973 e 1983, e foi sócio do IAB-SP e, junto com o filho, Conrrado Garcia Ferrés - que ainda mora e trabalha em São Paulo -, mantinha o escritório Luparga. São dele, projetos de agências do Banespa e escola da Conesp. Seu trabalho no Brasil continua pouco conhecido.

Amigo de Rino Levi desde os anos de 1950, eles criaram juntos o projeto para o concurso de Kurssal, na Espanha. Em 2004, ele foi premiado pela Federação Pan-Americana de Arquitetura (FPAA).

Por aqui, nem o IAB/SP deu a notícia...

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Quem dá mais?

"Vinte mil réis,
vinte e um e quinhentos,
cinqüenta mil réis!
Quem arremata o lote é um judeu,
quem garante sou eu,
pra vendê-lo pelo dobro no museu..."

Não, o Noel Rosa não tem nada a ver com estas seis cadeiras. Elas são criação de outro artista carioca, Sérgio Rodrigues. As peças fazem parte do lote 916, de uma leilão de móveis e objetos modernos da Christie's, de Londres.

A estimativa de venda é entre 1.500 e 2.000 pounds - ou, em nossa moeda, o equivalente a 6255,00 e 8340,00 reais. Ficou interessado? O evento acontece no próximo dia 28.

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21 setembro 2006

De novo, o início de Brasília...

Quem vai gostar desta é o Souto Moura, fã de carteirinha do prédio: hoje foi reaberto o Brasília Palace Hotel, criado por Niemeyer em 1957 (lógico que não é o que Juscelino hospedou-se na foto acima!!)

Obra pioneira na cidade, e situada próximo a lagoa de Paranoá e ao Palácio da Alvorada, o hotel era marcado por um grande pavilhão de três pisos; uma das fachadas, quase minimalista, era em elemento vazado, a outra, por sua vez, estavam os caixilhos dos apartamentos.

Fechado há 22 anos, depois de um incêndio, o espaço precisou de restauração orçada em R$ 23, 6 milhões. A obra foi supervisionada pelo próprio arquiteto, mas só vendo o resultado para saber se não acabaram com o projeto...

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20 setembro 2006

Tchau, Vico!

Ontem pela manhã, morreu em Milão o designer e arquiteto Vico Magistretti. Criador de ínumeras peças - como, por exemplo, as cadeiras Carimate (1959), Maui (1997) e Samarcanda (1998) -, doze das quais fazem parte da coleção permanente do Moma/NY.

Nascido em 6 de outubro de 1920 - tinha 85 anos - ele se formou em arquitetura em 1945 e ganhou diversos prêmios, como, por exemplo, dois Compassos de Ouro (1967 e 1979).

A certa altura da entrevista publicada no designboom - site que deu a notícia em primeiro lugar - ele diz:

Você lê revistas de design?
Não, nunca.

Sábia resposta...

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19 setembro 2006

Existem muitos arquitetos no Brasil?

O diagrama acima foi publicado no blog anArchitecture. Ele traça a relação do número de arquitetos para cada 1000 habitantes (entre os países da Europa).

A Itália é quem ganha (ou perde!): existem 1,73 arquitetos para cada 1000 habitantes. Na outra ponta, está a Polônia, com 0,26 arquitetos/1000 habitantes.

Para comparar, o Brasil possui 0,55 arquitetos/1000 habitantes, ou seja, está em patamar semelhante a Suécia (0,51), a Inglaterra (0,52), a Irlanda (0,53), a Holanda (0,53) e a Finlândia (0,58).

Nossos números não seriam tão ruins se não fossem nossos milhões de miseráveis...

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Gehry nas alturas

Os problemas com o aumento dos custos das obras não acontece só aqui. Deu no NYT: as estimativas da construção do The Grand Avenue, "a mais ambiciosa iniciativa multifuncional do centro de Los Angeles"subiu de 750 milhões, calculados há três anos, para os atuais 1,8 bilhões de dólares.

Frank Gehry, o autor do projeto, promete colaborar e modificar alguns detalhes para que o custo da primeira fase abaixe.
Segundo aos envolvidos, tal elevação deve-se ao proporcional aumento dos custos da construção civil, provocado pela grande demanda atual nos Estados Unidos.

Além da base, com conformação típica de Gehry, o complexo de Los Angeles possui ainda duas torres, tipologia que o arquiteto pouco desenhou: a primeira e maior possui 47 andares (destinada um hotel e 250 apartamentos) e outra, mais baixa, possui 25 andares (com 15o lofts e 100 apartamentos de luxo).

Se a bolha imobiliária dos Estados Unidos não vier antes, o projeto de Gehry tende a alimentar a presente revalorização de downtown de LA - iniciada com o Walt Disney Concert Hall (de Gehry), a nova Catedral (de Rafael Moneo) e a sede da companhia de trânsito (de Tom Mayne).

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18 setembro 2006

Mais uma da China...


Este post é mais um da série: 'será que fica bom?'

Trata-se do Beijing National Swimming Centre criado pelo escritório PTW. Ao fundo, o estádio olímpico do Herzog e de Meuron.

Particularmente, achava que haveria mais transparência...

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15 setembro 2006

As preocupações sobre a beleza II

Nesta semana, foi lançado no Rio de Janeiro o livro Moderno e Brasileiro: a história de uma nova linguagem na arquitetura (1930-60), de Lauro Cavalcanti.

O autor escrevia, durante os anos de 1990, uma coluna na revista aU. Além disto, Cavalcanti - arquiteto e antropólogo - assina várias publicações, entre elas, o catálogo da exposição por ele organizada em Paris Ainda Moderno?(2005).

No volume recém-lançado, editado pela Jorge Zahar Editor, o autor aprofunda seus estudos iniciados com As preocupações do belo (1995). Com eles, Cavalcanti busca elucidar o nascedouro do modernismo brasileiro, colocando o moderno em oposição com o neocolonial e as tendências acadêmicas.

A primeira vista, a obra chama a atenção pela publicação de imagens pouco vistas, como, por exemplo, as que envolvem a concepção do Grande Hotel de Ouro Preto: foto do terreno livre, fotomontagem do projeto neocolonial de Carlos Leão, da proposta inicial de Niemeyer e da opção final, com sugestão de Lucio Costa, com telha de barros e balcões.

Enfim, um trabalho de referência para quem estuda a arquitetura brasileira.

Só um porém: esta coisa de Niemeyer - que publicou uma casa dele nos tempos da Módulo -chamar o autor de "meu amigo" perde toda a credibilidade...

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13 setembro 2006

Preconceito ao precoce

Na próxima segunda-feira, dia 18 de setembro, será lançado na FAU/Maranhão (rua Maranhão, 88, São Paulo) o livro Arquitetura do século XX e outros escritos. A publicação, editada pela CosacNaify, é uma compilação de textos de Gregori Warchavchik, arquiteto de origem russa e formação italiana que criou os primeiros exemplares racionalistas em solo nacional, entre o final dos anos 20 e início dos 30.

O lançamento será acompanhado de debate, as 20h, entre Carlos A. Ferreira Martins, José Tavares Correia de Lira e Carlos Eduardo Warchavchik.

A importância de Warchavchik na arquitetura brasileira está fadada a ser a de um precursor do racionalismo. Só. A sua obra posterior, apesar de não ser totalmente desprezível - sua pouco conhecida casa da praia da Enseada, no Guarujá, é uma prova da qualidade posterior de sua arquitetura -, é colocada em segundo plano por todos os pesquisadores. E querendo ou não, o livro em questão reflete isso: dos nove artigos apresentados, sete são da década de 1920; um é da de 1930 e outro, dos anos 50.

Triste fim: ao olhar de todos, largou primeiro, mas não teve fôlego para a chegada...

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12 setembro 2006

Praemium Imperiale para Otto


O alemão Frei Otto, conhecido pelos projetos das coberturas tencionadas da Olimpíada de Munique (1974), acaba de ganhar o Praemium Imperiale de 2006.

Otto nasceu em Siegmar em 1925 e estudou na Universidade Técnica de Berlim (1948-52). Antes de se formar, passou uma temporada de estudos nos Estados Unidos, onde trabalhou com Frank Lloyd Wright, Eero Saarinen, Mies van der Rohe e Charles Eames.

Em 1957 participou do IBA, em Berlim, e dez anos mais tarde ganhou o prêmio Auguste Perret e projetou o pavilhão da Alemanha Ocidental na Expo de Montreal. Ganhou ainda o prêmio Aga Khan (em 1980 e 1998) e a Medalha de Ouro do Riba (2005).

Aos 81 anos, ele receberá do governo japonês (que patrocina o prêmio) 130 mil dólares em cerimônia dia 18 de outubro, em Tóquio.

É um reconhecimento tardio, suas obras mais interessantes possuem mais de 30 anos. Parece que o júri de alguns destes prêmios fazem uma lista que se inicia com a pergunta: "quem ainda está vivo?"

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Crime & arquitetura

O prédio onde o coronel Ubiratan Guimarães morava e foi encontrado morto foi desenhado por Nadir Mezerani. O arquiteto é autor, entre outras obras, da passagem subterrânea da avenida Paulista, que inclui também a passarela do Hospital das Clínicas e a passagem subterrânea de pedestre na rua da Consolação.

O edifício em questão fica na esquina da rua José Maria Lisboa com a avenida 9 de Julho. O ponto alto do projeto são os elementos de concreto, barras verticais, que fecham os terraços de serviço que possui conformação circular e são voltados para a 9 de Julho. Desenhos ilustrativos e plantas (via Editoria de Arte), na Folha impressa de hoje.

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11 setembro 2006

Forma & Espaço


Nesta segunda-feira, a coluna de Guilherme Wisnik na Folha (inicialmente batizada de Forma & Espaço), completa 30 publicações.

Localizada em local nobre (no pé da página 2 da Ilustrada, embaixo da coluna de Mônica Bérgamo), a coluna é uma iniciativa louvável de Marcos Augusto Gonçalves, editor do caderno cultural da Folha de S. Paulo, que assumiu o posto no início do ano.

Não é a primeira vez que a Folha dá espaço para ele - na outra ocasião, há mais de dois anos atrás, não havia uma formatação e ele assinou meia dúzia de pequenos textos que tiveram vida curta - e que quase mataram o Ruy Ohtake (qualquer dia explico melhor...) .

Os pecados da primeira incursão foram, em parte, corrigidos na segunda. Se a linguagem hermética já não é (tão) presente, os temas ainda patinam. Existe uma diferença entre informar o leitor de um grande jornal acerca do universo da arquitetura e a opinião de um colunista. Pelo que percebo, Wisnik acerta quando faz um pouco de cada, ou seja, pega um tema em voga e aborda de forma original (fez isso no caso da especulação imobiliária em SP, no caso do Minhocão e do Aterro do Flamengo). Agora, quando dá uma de colunista, inventando uma pauta (como o Zico!!!!, por exemplo), apesar da coerência de seu pensamento uspiano, suas colunas não são interessantes.

Ora, o que tem o Zico a ver com a arquitetura? Não existem temas mais urgentes? Se a Folha de S. Paulo fosse um jornal com uma larga cobertura arquitetônica e a coluna de Wisnik fosse um complemento, tudo bem. O problema é que a cobertura arquitetônica do jornal é pífia, o que (praticamente) resume o espaço em questão ao único território para as discussões do tema. E aí é que está o problema.

Apesar da aparente multidiciplinaridade do autor - filho de intelectual, ele é letrista, tem mestrado em história social, escreve texto de arquitetura e ainda projeta - ele não consegue (acho que não quer!) se desprender do universo uspiano e de seu cotidiano - leia-se a Cosac Naify, seus colegas de faculdade e, sobretudo, Paulo Mendes da Rocha (a benção painho...). Existem outras manifestações arquitetônicas possíveis em desacordo com a lógica uspiana.

E ao não se desprender deste universo, ele peca - ai segundo o Manual da Folha - em não avisar ao leitor de seu envolvimento com os temas em questão. Na semana passada, por exemplo, Wisnik falava sobre a exposição dos arquitetos de sua geração no Centro Maria Antônia (veja o post Qual é a sua turma?). O artigo é um copy-past de outro texto escrito por ele, anteriormente, para o evento. É chato, não? E não foi a primeira, nem a segunda (e creio que nem a última), que ele fez isso.

Bom, mas ao fazer uma retrospectiva de a coluna do Wisnik, descontando o texto de abertura, cheguei ao seguinte histórico.

Em mais da metade, ou que equivale a mais ou menos 2/3, os temas são pertinentes: 8 são sobre lançamentos de livros (3 da Cosac Naify, que o autor possui ligação...); 5 sobre problemas urbanos do Rio e SP (3 Minhocão e 2 Aterro do Flamengo), 4 sobre atualidades (Pritzker, morte de Jane Jacobs, copa do mundo, exposição) e 2 sobre o mercado imobiliário paulistano.

Os outros 1/3 possuem temas incertos: 3 sobre outras artes (música - Chico Buarque -; artes plásticas -Nuno Ramos-; e teatro - BR3), 6 sobre assuntos diversos (Tietê, Zico!!!,Ur??, Marx, Google, bienal de artes, China).

Mas no final das contas, ao menos ao que se refere aos temas escolhidos, a coluna é positiva.

Para terminar (ufa!), vamos, finalmente, ao artigo de hoje (só para assinantes do UOL ou da Folha). É sobre um livro de Peter Zumthor (Pensar a arquitetura), lançado em português pela espanhola Gustavo Gili. Wisnik tece amplos elogios ao texto do autor-arquiteto. Para mim, os escritos de Zumthor mais parecem Paulo Coelho: bobinho, bobinho...É mais recomendável ficar com a obra.

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Rogers premiado

Esta é em primeira mão: Richard Rogers recebeu o Leão de Ouro em Veneza.

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Brasil em pauta

Não, não estou lembrando os festejos do Ano do Brasil na França; refiro-me ao escritório paulistano Brasil Arquitetura - de Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci - pauta de três publicações recentes.

Um obra deles, o Museu Rodin Bahia, teve a capacidade de encantar os editores das duas únicas revistas de arquitetura do país: ela ilustra as reportagens de capas de ambas. Primeiro, saiu a Projeto, na semana passada; agora, chega aos assinantes a aU. Na primeira olhada, a Projeto parece melhor, graças as fotos do Nelson Kon. A aU, apesar de dar mais destaque as plantas, comete erros infantis na página dedicada a elas.

E para finalizar, um artigo de Hugo Segawa, no caderno Mais! de ontem, também colocou o Brasil Arquitetura em pauta. Neste caso, restam duas perguntas:

1. Por que o Wisnik, crítico da Folha, não fez a resenha?
2. O livro já não é velho demais para ser resenhado em um jornal diário?

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06 setembro 2006

Encurralando Koolhaas

Uma entrevista de 24 horas. Isso mesmo: 24 horas! Foi isso o que foi realizado, dia 29 de agosto passado, na galeria Serpentine, em Londres.

No centro das atenções, Rem Koolhaas, o agitado arquiteto holandês, que projetou o pavilhão temporário recém inaugurado em Londres. "Estamos exaustos", declarou o arquiteto, depois de horas de perguntas.

Além de Koolhaas, também foi entrevistado Hans Ulrich Obrist, historiador de arte e autor de inúmeras entrevistas (publicadas na Domus e em uma interessantíssima publicação). Estavam na platéia, entre outros, Zaha Hadid, David Adjaye e Charles Jencks. Leia a matéria sobre a 'entrevista 24 horas' na revista Metropolis, que foi para o hoje no ar.

Quem será, por aqui, que teria tanta coisa para falar? E quem se habilita a ouvir...

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05 setembro 2006

Tortuosidades nos balcãs

A revista espanhola 2G (da editora Gustavo Gili) anuncia hoje seu novo número, o 38, que é sobre o escritório esloveno Ofis arhitekti, de Spela Videcnik e Rok Oman.

Além do inusitado país - é difícil ter acesso a arquitetura eslovena - deve-se lembrar a idade de Spela e Rok, nascidos entre 1970 e 1971 e formados entre 1997 e 1998! Ou seja, este ano eles completam 35 e 36 anos. Eles fazem parte, portanto, da geração de arquitetos europeus pós-Europan (o qual, aliás, venceram a sexta edição).

Baseados em Ljubljana, o Ofis já desenvolveu diversos projetos, entre os quais a ampliação do museu da cidade de Ljubljana, (2004) e blocos multifamiliares, entre os quais, dois volumes de apartamentos em Izola, Eslovênia (2005). No Brasil, um edifício do Ofis foi capa da edição da aU (n°145, de abril de 2006), com o mesmo edifício que ilustra a edição espanhola.

A edição da 2G trás 12 projetos da equipe, dois texto de apresentação (de Roemer van Toorn e Shumon Basar, o primeiro disponível no site da revista) e entrevista com os arquitetos.

Em termos políticos, os Balcãs já estremeceram o mundo. Resta saber o estrago que fará no mundinho arquitetônico...

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04 setembro 2006

Arquitetura embriagada?

Está quase pronta a mais nova obra de Frank Gehry: é o hotel da vinícola Marques de Riscal, em Rioja, na Espanha. Ele desenhou também outra vinícola - a The Hall, em Napa, Califórnia - cujas obras serão iniciadas até o final do ano, mas é mais modesta que a espanhola.

A obra da Espanha, apesar da localização, não causará certamente nenhum 'Bilbao effect', tal como o Guggenheim - mas atrairá os amante de vinhos e arquitetura.

E por falar em Gehry, há poucos meses foi lançado nos Estados Unidos um documentário sobre a obra dele, dirigido por Sydney Pollack, tema do artigo de Fernando Serapião, publicado hoje no Arcoweb.

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01 setembro 2006

Lixo ou luxo?

Os intrépidos arquitetos da Triptyque - uma brasileira e três franceses com escritório em São Paulo - ganharam reportagem no site da Domus sobre a estante Treme-treme, inspirada no edifício da rua Paim, em São Paulo (foto).

A patota, que já criou algumas lojas e apartamentos na cidade, promete balançar o mundo fashion-arquitetônico paulistano.

Ironias do destino: o lixo virou o luxo, mas o decadente prédio que serviu de inspiração foi criado por Aron Kogan, pai de Marcio Kogan, outro arquiteto fashionista.

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"Não tentem fazer isso em casa"

Segundo Felix Claus, de escritório holandês Claus en Kaan, as revistas de arquitetura deveriam trazer uma advertência do tipo: 'não tentem fazer isso em casa'.

Leiam só o trecho:

"O problema da arquitetura atual é que existem muitos arquitetos tentando criar coisas que se consegue uma vez na vida. Nem se quer Jean Nouvel pode criar um edifício único a cada dez ou doze anos. Isso significa que o mundo está sendo levado na brincadeira. Hoje em dia as revistas de arquitetura deveriam trazer um aviso do tipo: "Advertência: não tentem fazer isso em casa".

Vale a pena ler a entrevista, publicada no El Pais.

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Qual é a sua turma?

Abriu ontem, no Centro Universitário Maria Antônia, em São Paulo, a exposição Coletivo - arquitetura paulista contemporânea.

A mostra agrupa o trabalho de sete escritórios paulistanos, todos formados na FAU/USP entre meados de 1980 e 1990 - são eles, Andrade Morettin, Angelo Bucci, Álvaro Puntoni, MMBB, Núcleo de Arquitetura, Projeto Paulista e Una Arquitetos.

Segundo Guilherme Wisnik, eles são "ligados por um fio geracional" que "se define como grupo". E mais: possuem "afinidades que têm como termo comum, uma adesão afirmativa ao 'desenho' humanista defendido por Artigas como instrumento de atuação social do arquiteto."

Parece que querem ressuscitar antigos ideais. Será que vai dar certo?

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A lista

São sete os edifícios escolhidos por Sudjic em sua lista derradeira. Todos os arquitetos são europeus. Uma escolha devera parcial...

As 'linhas da beleza', são:

"Science Centre, Wolfsburg, by Zaha Hadid, 2003
'Revolutionary is a word to be used as sparingly as possible, but Zaha Hadid's new science centre, an astonishing, exhilarating concrete and steel vortex of a building, is one of those few constructions that fully justifies its use.'

Music Hall, Porto, by Rem Koolhaas, 2005
'The Casa da Musica is a remarkably compact, angular, white concrete mushroom that explodes every preconception of what a concert hall should be and how it should look.'


Scottish Parliament Building, by Enric Miralles, 2004
'One of the finest pieces of new architecture in Britain for 50 years ... a lyrical and complex composition of oak, granite and steel, half-buried in a meadow and wrapped into Edinburgh's medieval fabric.'


Prada shop, Tokyo, by Herzog and de Meuron, 2003
'A beautiful building, put together with the finesse of Japanese craftsmanship and Swiss determination. It is also the start of architecture's next big thing.'


Selfridges, Birmingham, by Future Systems, 2003
'You can see it for miles off, popping up like an unlikely soap bubble from the midst of the discount jean stalls in the market halls of the Bull Ring.'


Novy Dvur monastery, Czech Republic, by John Pawson, 2004
'For Pawson, who has, until now, worked mostly at the scale of the domestic house, it is a profound and impressive demonstration of his abilities with a much larger scope.'


Swiss Re Tower, London, by Norman Foster and Partners, 2004
'Without a single column to interrupt your gaze, you are overwhelmed by the sense of power that oozes from every piece of steel, aluminium, glass and granite.'"

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A despedida de Sudjic

Depois de seis anos como colunista de arquitetura do Guardian, Deyan Sudjic escreve hoje sua última coluna.

Curador da Bienal de Arquitetura de Veneza de 2002, Sudjic é autor de inúmeros livros de arquitetura, sobretudo de arquitetos ingleses - de Norman Foster à John Pawson.

Nascido em Londres em 1952, de pais iugoslavos, ele formou-se em arquitetura em Endinburgo e se firmou como um dos críticos mais flexíveis de nosso tempo: sua marca ficou registrada durante o período em que foi editor da Domus (a revista possui uma política interessantíssima, que troca o editor a cada dois anos. Às vezes, os resultados são desanimadores, mas é democrático).

Outro interessante trabalho do autor é seu livro mais recente, Edifice Complex (leia resenha do Guardian), onde narra a relação entre a arquitetura e seu financiamento, focando na representação política da obra. Ele analisa, por exemplo, as opções arquitetônicas de Tony Blair, Jucelino Kubitchek e Saddam Hussein.

Em sua coluna derradeira, ele faz um resumo do que viu em sua coluna Eye, uma lista de sua obras preferidas e anuncia o nome de seu substituto - Stephen Bayley.

Independente do talento de Bayley, Sudjic fará falta.

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